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Cinema

'Sobre Rodas' se preocupa mais com a mensagem edificante do que com a história

Longa infantojuvenil é road movie que companha dois adolescentes pelo interior

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Sobre Rodas

  • Classificação Livre
  • Elenco Lara Boldorini, Cauã Martins, Arthur Kohl
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Mauro D`Addio

Se tivermos que pinçar uma boa notícia de "Sobre Rodas", certamente é esta: o filme brasileiro dirigido por Mauro D'Addio é bonito. E põe bonito nisso. 

Está lá aquela estradinha de terra que leva poeira a um morro cor de esmeralda. O pôr do sol que alaranja a vendinha na beira do canavial. A igreja colonial que diz: você está no interior, mas sem revelar exatamente onde. O café que dá água na boca e faz o relógio andar um pouco mais devagar.

É como se essa espécie de road movie infantojuvenil filmado em Monte Alegre do Sul (SP) conseguisse traduzir a alma interiorana em imagens, mas sem cair em um clichê visual.

A má notícia é que, se o longa fosse aquela farta comida de fazenda, faltaria um bocado de sal.

A história parece cair na velha arapuca que devora filmes, livros, peças e qualquer produção para crianças e adolescentes —a síndrome da moral da história. Primeiro cria-se uma mensagem edificante como ensinamento final para só depois pensar na narrativa e na trama.

O resultado é um só: algo confortável, que se aproxima mais do utilitarismo pedagógico do que das incertezas e múltiplas interpretações da arte.

No caso de "Sobre Rodas", acompanhamos Lucas (Cauã Martins) e Laís (Lara Boldorini), dois adolescentes de 13 anos, pelas estradinhas de chão batido, em busca do pai da menina, um caminhoneiro que ela nunca conheceu. O título vem do meio de transporte que eles usam para isso —ela, uma bicicleta; ele, uma cadeira de rodas motorizada. 

Sim, Lucas é cadeirante. E ficamos sabendo disso logo na primeira cena, quando ele é atropelado por um caminhão durante um jogo de futebol de várzea com os amigos. 

Com baixa autoestima, inconformado com impossibilidade de andar, ele acaba encontrando o eco de suas revoltas na menina que idealiza o pai que nunca encontrou. Como queijo e goiabada, eles deságuam em uma mensagem de aceitação que pode ser simbolizada em uma das falas de Lucas: "Às vezes a gente procura o que não pode achar".

A estética aliada à mensagem de superação fez a produção participar de uma série de festivais no Brasil e no exterior, caso do TIFF Kids (Canadá), do Chicago International Children's Film Festival (EUA), do Festival do Rio e de outras duas dezenas.

Até porque o filme não traz redenções, é verdade. Mas é como se a pedalada já tivesse um destino certo desde o começo —ignorando que o caminho e suas surpresas são o melhor da viagem. E que, quando já sabemos aonde vamos chegar, não chegamos a lugar nenhum.

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