Disseram que o rock estava numa pior, mas a T4F (Time for Fun), líder no mercado de entretenimento ao vivo na América do Sul, acaba de adquirir a plataforma de música Popload, da produtora e do site homônimos do jornalista Lúcio Ribeiro.
“Basta ver as escalações dos principais festivais do planeta. O rock, como todos os estilos, vem em ondas. Às vezes em baixa, outras vezes, mais destacado, mas sempre vivo, com muita gente em shows, ainda que rap e pop dominem rádios e streamings”, diz Lúcio.
À semelhança de produtores e artistas, como o jazzista Kamasi Washington em entrevista recente à Folha, Lúcio também vê as fronteiras entre os estilos cada vez mais etéreas.
“Eu, por exemplo, um ‘roqueiro indie’, estou desesperado pra ver Kendrick Lamar no Lolla e Drake no Rock in Rio.”
Lúcio diz que não esperava ir tão longe quando iniciou o negócio com a sócia Paola Wescher. Ele seguirá à frente da curadoria e da gestão da marca. O que muda, ele diz, é ter mais estrutura para “o que envolve fazer um festival que não seja escalar bandas para tocar”.
Os primeiros reflexos devem ser a exportação do Popload Festival para outros lugares do Brasil além de São Paulo e mesmo para fora do país, informação confirmada por Fernando Alterio, presidente da T4F.
O Popload começou nos anos 2000 como coluna nesta Ilustrada, sob os nomes Download e, depois, Pensata.
Em 2006, o jornalista fez da iniciativa um site, mantendo a premissa de focar artistas das cenas rock alternativa e eletrônica.
O passo seguinte foi trazer ao Brasil as bandas de que falava. Nascia o selo responsável por shows de nomes como Nick Cave e Courtney Barnett, destaque da mais recente edição do evento, em fevereiro.
A ideia cresceu em um festival, o Popload Festival, sob cuja produção apresentaram-se nomes como Cat Power, Iggy Pop, PJ Harvey e Wilco.
Essas iniciativas adentram, agora, o portfólio da T4F, incluindo a plataforma de notícias, a rádio e o serviço de venda de ingressos Ticketload.
O primeiro evento pós-fusão será, no segundo semestre, a edição 2019 do Popload Festival, que, em 2018, teve atrações como a cantora Lorde e a banda Blondie —o primeiro show no Brasil do grupo da cantora Debbie Harry.
Em nota à imprensa em fevereiro, a companhia afirmou que a aquisição envolve a exclusividade das marcas e direitos Popload e que a parceria reforça o foco em festivais, como o Lollapalooza, que a empresa produz no Brasil.
Em comunicado a investidores, a T4F disse que o objetivo é “aumentar receitas e resultados”, preocupação em época de solavanco financeiro.
"A T4F está reestruturando sua plataforma de festivais, e, por isso, a aquisição da Popload é importante para a empresa", diz Alterio à Folha.
A T4F teve queda de 77% no lucro líquido em 2018 frente a 2017, e caiu também o volume de eventos, de 754 para 456 por ano.
O seu presidente, Fernando Alterio, atribuiu essa queda à greve dos caminhoneiros, à Copa do Mundo e à “polarização da eleição, que concentrou atenções da mídia e do público”, gerando “ambiente adverso para a venda de ingressos”.
“Eu sou indie, não sei responder num nível aceitável de entendimento de mercado financeiro", brinca Lúcio, "mas, num mercado volátil como o brasileiro, uma empresa do tamanho da T4F tem uma convivência com altas e baixas; o jogo é esse.”
As partes não informam o valor da transação. No balanço de 2018 enviado à Comissão de Valores Mobiliários, a T4F reservou R$ 10 milhões a serem aplicados em 2019 em “aquisições de participações”.
Não é possível determinar que esse total corresponda ao valor da compra do Popload, visto que no mesmo documento Alterio diz que a empresa espera “anunciar novas associações e aquisições”.
Segundo o anúncio, o olhar da T4F em 2019 estará dirigido “aos segmentos de festivais (…) e ticketeiras”, as empresas de venda de ingressos.
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