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'Tommy' encena um dos períodos mais delirantes do rock mundial

Turnê brasileira de ópera-rock da banda The Who tem ainda como bônus show de outro álbum do grupo

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Fotos do musical Tommy

O ator Sam Darker como o jovem Tommy Divulgação

São Paulo

O diretor inglês Alan Veste, conhecido por montagens teatrais que reproduzem filmes musicais consagrados no cinema, admite que a intenção do espetáculo "The Who's Tommy Live - A Ópera Rock ao Vivo" era seduzir o público pela nostalgia.

"Queríamos que o espectador voltasse a ter contato com um filme que fez parte de sua vida. Mas a presença de jovens na plateia nos surpreendeu", diz Veste, que tem no currículo adaptações de filmes como "Purple Rain" e "Pink Floyd: The Wall".

Em cartaz nos palcos londrinos desde 1995, essa versão de "Tommy" é exibida em turnês pelo mundo, com elenco e banda da montagem original, e chega a São Paulo no próximo domingo (24), quando a turnê brasileira será encerrada depois de passar por cinco capitais: Belo Horizonte (17), Florianópolis (20), Porto Alegre (21), Rio de Janeiro (22) e Curitiba (23).

Antes de chegar ao cinema, o LP duplo "Tommy" foi lançado em 23 de maio de 1969. O conceito de uma ópera veio de Pete Townshend, guitarrista e compositor do The Who.

O quarteto inglês havia emplacado vários singles nas paradas desde 1965, mas ninguém esperava algo tão complexo como o resultado do quarto álbum da banda.

O enredo mostra o garoto Tommy Walker, que nasce no dia em que a Segunda Guerra Mundial termina. Seu pai, dado como morto em combate, reaparece anos depois e é morto pelo padrasto do menino. Ao testemunhar o assassinato, Tommy entra em choque e não consegue mais falar, ouvir ou ver.

Depois de uma infância e adolescência de sofrimento, ele descobre que consegue jogar melhor do que qualquer um nas máquinas de fliperama. Tommy se torna uma celebridade e arrasta seguidores, criando uma religião.

Em 1975, o britânico Ken Russell dirigiu uma adaptação para o cinema. No papel de Tommy está o vocalista do Who, Roger Daltrey, à frente de um elenco com ótimos atores (Oliver Reed, Ann-Margret, Jack Nicholson) e estrelas de rock (Tina Turner, Eric Clapton, Elton John).

A narrativa conduz o musical. "Não mudamos muita coisa desde a estreia. Só algumas trocas no elenco e aperfeiçoamentos para um visual mais impactante. Sempre tocamos todas as músicas, na ordem do filme", explica Veste.

O maior símbolo da continuidade é a presença constante de Gary Brown, ator e músico inglês que herdou o papel de Tommy. "Gary é o intérprete perfeito. Claro que envelheceu, mas carrega a magia de Tommy", defende Veste. Fora do teatro, Brown lidera a Space Cadets, uma big band de Liverpool.

O diretor diz que a montagem não teve colaboração dos integrantes do Who, mas que ficou satisfeito quando recebeu elogios dos membros vivos da banda, Townshend, 73, e Daltrey, 75. O baterista Keith Moon e o baixista John Entwistle morreram, respectivamente, em 1978 e 2002.

"Tommy" é considerada a primeira ópera rock da história. A definição é perfeita, porque reproduz a estrutura operística, que conta uma história usando canções com narrativas sequenciais e vários personagens assumindo o discurso em partes diferentes.

O disco elevou o Who à condição de grande estrela, e três meses depois a banda fez apresentação em Woodstock. Tanto sucesso fez o quarteto inglês voltar ao formato de ópera rock em 1973, com "Quadrophenia".

Embora seja mais um clássico inquestionável do rock, o trabalho é inferior a "Tommy". Talvez até mais sofisticado em termos musicais, tem um argumento menos amalucado, fala de disputas entre gangues de jovens na Inglaterra do início dos anos 1960.

"The Who's Tommy Live" tem ainda uma segunda parte, apresentada depois. Gary Brown e a banda voltam ao palco para apresentar canções do álbum "Who's Next", que o grupo lançou em 1971, entre as gravações de "Tommy" e "Quadrophenia".

 

Nem todos os fãs sabem que "Who's Next" foi originalmente concebido também como ópera —ou algo parecido. O projeto se chamava "Lifehouse" e uma ideia de Townshend era criar um show com interatividade da plateia e música contínua, com as canções emendadas umas nas outras.

Seu lançamento como álbum normal veio da dificuldade que Townshend teve para organizar o fluxo de ideias do material. Sobraram do projeto as nove faixas , algumas das quais complementam a viagem nostálgica de "Tommy".

Para os mais jovens, talvez a descoberta de um dos períodos mais delirantes do rock.


The Who's Tommy Live - A Ópera Rock ao Vivo

Domingo (24), às 19h30, no Espaço das Américas (r. Tagipuru, 795, São Paulo). De R$ 120 a R$ 380. 14 anos.

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