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Cinema

'Um Ato de Esperança' é tão instigante quanto carente de ousadia

Inspirado em livro de Ian McEwan, filme exibe rapaz que recusa transfusão de sangue

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Um Ato de Esperança

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Emma Thompson, Stanley Tucci, Fionn Whitehead
  • Produção Reino Unido, EUA, 2017
  • Direção Richard Eyre

Em 1983, quando lançou o seu primeiro filme, "The Ploughman's Lunch" (traduzido em Portugal como "A Verdade dos Fatos" e jamais lançado no Brasil), Richard Eyre já figurava como renomado diretor teatral.

De Shakespeare a Ibsen, o britânico destacava-se por levar aos palcos intricados dilemas morais, cujas forças narrativas somavam-se à excelência do elenco escolhido para protagonizá-los. Daniel Day-Lewis, Jonathan Pryce, Vanessa Redgrave foram alguns dos nomes que figuraram em suas premiadas montagens.

Alternando, desde então, entre filmes e peças, a ênfase na atuação e o peso dramático nunca deixou de acompanhá-lo. Quem viu "Iris" (2001) ou "Notas sobre um Escândalo" (2006), dois pontos altos de sua filmografia, talvez ainda se lembre das performances de Judi Dench, Jim Broadbent, Cate Blanchett e do destino insólito de suas personagens.

Se a cada novo projeto um artista deve escolher entre se reinventar ou insistir na segurança do território conhecido, Eyre sempre pareceu convicto do segundo caminho. "Um Ato de Esperança", seu novo filme, confirma: seguindo a mesma receita, chega novamente a um drama clássico, capitaneado por um atriz extraordinária, cuja personagem se equilibra na fronteira difusa entre norma e transgressão.

A história traz Fiona Maye (Emma Thompson), uma renomada juíza especialista em direito familiar, às voltas com os problemas de um longo casamento desgastado. Sua capacidade de julgamento é posta à prova quando surge o caso de Adam (Fionn Whitehead), um garoto diagnosticado com leucemia, cuja devoção religiosa o faz recusar uma transfusão de sangue.

Rico no conteúdo e conservador na forma, o filme se propõe —como os anteriores— a se desenrolar em reflexões de múltiplas dualidades. Na trama, revezam-se embates entre lei e afeto, ciência e religião, família e trabalho, juventude e maturidade, sem que, para isso, o interesse narrativo se perca em academicismos.

Difícil de se alcançar, o equilíbrio entre a consistência dos dilemas apresentados e o apelo cinematográfico deve-se, possivelmente, ao roteirista —o mesmo que, há quase 40 anos, escreveu o primeiro filme de Eyre: Ian McEwan, que hoje é tido como um dos escritores mais cultuados da literatura internacional, responsável não apenas pelo roteiro do longo, mas também pelo livro que lhe deu origem.

Da mesma maneira, porém, que a insistência em encruzilhadas morais pode agradar de entusiastas de filmes de júri a admiradores da filosofia britânica moderna, não é menos verdade que a recorrente música orquestrada, o uso de câmera lenta e a atmosfera dramática podem soar cafonas. 

Tão dinâmico e instigante quanto carente de ousadia, "Um Ato de Esperança" termina por ser um filme correto e técnico em todos os seus aspectos, mas cuja aposta em velhas formas talvez lhe confira certa aparência genérica. 

Como é de praxe na filmografia do inglês —e disso não se pode esquecer o mérito— , o brilho particular fica por conta, mais uma vez, de sua protagonista: Emma Thompson é mesmo impressionante.

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