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Aventura colonial dos franceses no Rio inspira novo espetáculo

Peça 'Relatos Efêmeros da França Antártica' relata acontecimentos entre 1555 e 1560

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Curitiba

Um misto de sonho e espírito imperialista rondam um dos episódios mais curiosos da colonização brasileira. Era a utopia de um novo mundo que o francês Nicolas Durand de Villegagnon vendia quando criou em meados do século 16 a França Antártica, uma colônia de seu país construída na baía de Guanabara.

A ideia era estabelecer um refúgio para as guerras religiosas que eclodiam na Europa, um local para abrigar protestantes fugidos, os huguenotes franceses, para que pudessem conviver harmoniosamente com católicos.

Não é preciso dizer que foi um fracasso. Villegagnon, ele mesmo em crise, mal conseguia governar. A expedição resultou em conflitos religiosos internos e culminou na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. A cidade, fundada logo em seguida, nasceria já cindida pelas batalhas e pelo extermínio de povos indígenas.

Peça "Relatos Efêmeros da França Antártica"
Cena da peça "Relatos Efêmeros da França Antártica" - Gal Oppido/Divulgação

O episódio é descrito no nono capítulo de "Tristes Trópicos", livro do antropólogo Claude Lévi-Strauss, como algo estapafúrdio. "E ele comenta como isso daria um filme", afirma o dramaturgo e diretor amazonense Francisco Carlos, que agora faz um espetáculo sobre o caso.

"Relatos Efêmeros da França Antártica", que estreia no Festival de Teatro de Curitiba e deve ganhar uma temporada paulistana no segundo semestre, recria a utópica colônia, suas suspensões e quedas, em suas diferentes faces.

O espetáculo é dividido em quatro atos, ou espelhos, como o encenador os chama. Cada qual relata os acontecimentos dos cinco anos em que durou a colônia, de 1555 a 1560, vistos de um lugar e de um ponto de vista distintos. No fim, as narrativas se completam e as peças do quebra-cabeça se encaixam, dando ao público uma visão mais ampla.

Toda a ação acontece sobre uma instalação feita de plantas diversas, algo inspirado nos jardins de Hélio Oiticica. É uma representação do bioma da mata atlântica, que vem se deteriorando ao longo dos séculos —assim como a vegetação sobre o palco, que é perecível e morre com o tempo.

É nesse tipo de ambientação simbólica que Carlos cria suas narrativas de cunho político, mas construídas numa colagem de referências, misto de poesia, discursos históricos e reflexos do inconsciente. Seus espetáculos são como um ritual xamânico.

Tanto que está no cerne de sua obra a pesquisa histórica, em especial a da formação brasileira e a perspectiva indígena, que sempre surgem como um reflexo da realidade contemporânea —algo já visto em montagens como "Sonata Fantasma Bandeirante" ou na tetralogia "Jaguar Cibernético".

No caso de "Relatos Efêmeros", não há uma atualização do episódio histórico, mas ele não deixa de reverberar acontecimentos de hoje.

"Acho que tem uma força, uma visualização do presente. Isso que, quando eu comecei a pensar no projeto, o Brasil não estava do jeito que ele está hoje", afirma o diretor, em referência ao clima político conturbado do país.

"E a questão indígena se agravou muito mais. Acho que governos anteriores talvez não tenham cuidado bem da questão, mas agora existe mesmo uma atitude contra povos indígenas. O próprio governo disse que não iria demarcar terras. Houve um certo decreto de extermínio oficial dos povos indígenas. Isso acaba dando uma veracidade maior para o trabalho, infelizmente." 

A jornalista viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba.

Relatos Efêmeros da França Antártica

  • Quando Seg. (1º/4), às 21h
  • Onde Teatro da Reitoria, r. 15 de Novembro, 1.299, Curitiba
  • Preço R$ 70
  • Classificação 16 anos
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