Banda Voluntários da Pátria evoca cena pós-punk dos anos 1980 em show raro

Pioneiros do rock paulistano se reúnem para celebrar seu primeiro e único álbum

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São Paulo

Pioneiros do rock paulistano se reúnem para uma celebração neste domingo (7), no Centro Cultural São Paulo. Nasi, Miguel Barella, Ricardo Gaspa, Giuseppe "Frippi" Lenti e Thomas Pappon vão subir ao palco para tocar músicas inseridas na cena pós-punk dos anos 1980. E elas não soam datadas.

O objeto de celebração é o primeiro e único álbum do Voluntários da Pátria, que leva o nome da banda e foi gravado pelo selo independente Baratos Afins. Independente mesmo. Barella, guitarrista, recorda que o disco foi lançado no dia sete de setembro de 1984.

Para o baterista Thomas Pappon, o disco "atira para tudo quanto é lado". "A banda foi formada num momento em que as pessoas viviam o final da ditadura, com a MPB numa onda muito chata e o rock de fora virando referência musical nas universidades."

O Voluntários estava entre as primeiras bandas de uma nova cena musical em São Paulo, com um disco que transparecia todas as influências da banda, como Gang of Four e The Cure. No Rio, um pop rock já entrava nas gravadoras, com Blitz, Barão Vermelho e Lulu Santos.

Pappon reafirma o pioneirismo da banda. "Por aqui, chegar ao disco era coisa de uma grande gravadora se encantar com o seu som e gravar um LP. A gente sabia que em Londres a moçada estava fazendo a coisa por conta própria. Fomos os primeiros nisso."

"A gente achava que ia tocar no rádio", conta Nasi. "Poderíamos ter vendido mais discos", diz Barella, "mas as músicas voltaram vetadas da Censura Federal, com o carimbo que proibia radiodifusão."

Frippi, o outro guitarrista do quinteto, ressalta que as três faixas com mais potencial para sucesso foram censuradas: "Cadê o Socialismo?", "Verdades e Mentiras" e "O Homem que Eu Amo".

Nasi vê o Voluntários como adiante do seu tempo. "Nos anos 2000, apareceram umas bandas lá fora, tipo Interpol, Franz Ferdinand. Como a gente, elas foram influenciadas por Gang of Four, e tocaram bem em rádios. Acho que fizemos um som palatável às rádios de rock, mas antes da hora."

"Nós tínhamos informação. Hoje é fácil, você clica no YouTube e vê tudo. Há 35 anos, a gente tinha a iniciativa de ir atrás", diz Frippi. Segundo o baixista Gaspa, "Thomas era a bússola, ele tinha os discos."

Morando em Londres há anos, as vindas de Pappon para férias no Brasil é que abrem janelas para eventuais reuniões. A anterior foi em 2016. Todos vivem de música, exceto Gaspa, que depois de anos como baixista do Ira! mora agora em Pirenópolis, Goiás.

Vocalista do Ira! há quase quatro décadas, Nasi é o mais conhecido do quinteto. Nos anos 1980, eles se dividiam entre várias bandas, e foi o desejo de se dedicar a apenas uma que motivou a separação do grupo. Nasi ficou exclusivamente no Ira!, e Pappon seguiu no Fellini.

Barella e Frippi têm uma longa carreira de projetos musicais. Frippi agora está cuidando do lançamento do Stratus Luna, grupo de prog rock que traz na bateria seu filho, Giovanni Lenti, e tem um ótimo álbum gravado.

O palco do Centro Cultural é emblemático para a banda. "No fim de nosso último show lá, o Miguel [Barella] chorava feito criança", conta Nasi.

"Meu pai estava assistindo. Ele nunca aparecia. E era uma das primeiras vezes que ele saía de casa depois de ter tido um infarto. Foi demais para mim!", relembra Barella.

Shows

Voluntários da Pátria

Punk Rock

A banda precursora do movimento pós-punk brasileiro faz sua primeira apresentação desde que lançou seu primeiro e único disco homônimo, em 1984. A formação do show é a mesma da gravação -- sobem ao palco Nasi, Miguel Barella, Giuseppe Frippi Lenti, Ricardo Gaspa e Thomas Pappon.

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