“Vingadores: Ultimato” chegou aos cinemas esta semana batendo recordes e faturando US$ 1,2 bilhão em bilheteria ao redor do mundo, tendo a estreia mais lucrativa da história. Só no Brasil, o blockbuster da Marvel ocupa 80% das salas de cinema, número considerado inaceitável por cineastas brasileiros.
Para Mariza Leão, produtora do filme brasileiro “De Pernas Pro Ar 3” – o mais afetado pela estreia de “Vingadores” –, é um “absurdo” não haver uma regra para um limite de ocupação das telas.
A comédia protagonizada por Ingrid Guimarães ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores em menos de um mês de lançamento, mas agora perdeu salas para o blockbuster.
“Isso é um discurso liberal ‘pra boi dormir’, porque se você tem um estado que fomenta [o cinema], uma indústria em atividade, que gera riqueza e imposto, você vai deixar a permanência de um filme brasileiro à mercê dessa selvageria do mercado? É absolutamente inaceitável”, reclama Mariza.
Ela cita que nos Estados Unidos, o novo “Vingadores” ocupa 4.600 salas, segundo o Variety, pouco mais de 10% do parque exibidor. Nos cálculos do Filme B, portal que monitora esse tipo de dado no Brasil, o filme americano chega a ester em 2.700 das 3.356 salas do país.
A discussão sobre lançamentos “predatórios”, como foram chamados pela Ancine, a agência brasileira que regula o setor audiovisual, não é recente. “Jogos Vorazes: A Esperança”, de 2014, já havia ocupado metade das salas brasileiras, e a tendência seguiu com filmes como “Jurassic World: O Reino Ameaçado”, do ano passado.
Crítico da ocupação massiva de filmes americanos no Brasil, o cineasta André Sturm diz que essa exploração do mercado “vai contra qualquer princípio de concorrência, direito do consumidor, de mercado”.
“Precisa de tanta sessão por que tanta gente quer ver o filme ou tanta gente vai ver o filme por que tem tanta sala? É só pensar: o cara vai ao cinema e vai ver ‘Vingadores’. É óbvio, porque só tem ‘Vingadores’. Claro, o filme tem apelo, mas também não tem concorrência”, ele diz.
Tanto Mariza quanto Sturm acreditam que a única solução para a questão é limitar o número de salas que podem exibir o mesmo filme por complexo. A chamada cota de tela suplementar, resultado de um acordo de produtores, distribuidores e exibidores com a Ancine, foi suspensa em 2018, por decisão do Tribunal Regional Federal.
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