Alguns pensarão que a filosofia só trata de grandes questões, todas muito profundas. Por que o universo existe? Há vida depois da morte? De onde viemos? O bem e o mal existem?
Em vez de tratar dessas perguntas, o escritor, ensaísta e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé resolveu refletir sobre indagações mais prosaicas em seu novo livro. Por que levantar da cama todos os dias? Qual das duas é melhor, a realidade ou a fantasia? “Filosofia do Cotidiano - Um Pequeno Tratado Sobre Questões Menores” é uma obra que trata de questões que só em tese são pequenas, diz o autor —na verdade são grandes.
No volume, Pondé começa falando do despertar no sentido existencial. Ele vê três sentidos nesse despertar: o platônico, de busca do mundo real; o cético, como um acordar do sonambulismo dos dogmas; e o dos gnósticos, cristãos primitivos que viam o mundo como um espaço criado por um deus mau, repleto dos piores tormentos.
“A relação entre despertar e enxergar a dor que permeia a realidade é outra forma poderosa de entender o sentido maior de se acordar um dia na vida”, escreve Pondé.
A questão é como escapar do niilismo diante da constatação de que a realidade “é uma (bela) câmara de tortura”. “Uma das formas é pensar sobre o niilismo, ver como se manifesta”, diz o autor.
Um dos pontos que liga todos os textos do livro é a crítica sempre mordaz à autoajuda, que, na visão de Pondé, seria um fenômeno ligado aos adultos infantilizados do mundo contemporâneo.
Outro elemento que atravessa diversos ensaios é a ideia de que a tradição é um elemento a garantir segurança, bem-estar e estabilidade ao ser humano —e que algumas mudanças da sociedade, no lado contrário, trariam mais angústias do que a intelectualidade de esquerda gosta de admitir.
Isso vai de uma defesa da importância de se acordar cedo por ser o que a humanidade faz há milênios até uma defesa da família nuclear. É assim que Pondé vê na emancipação feminina a produtora de mulheres solitárias e homens fragilizados, por exemplo.
“Tento relativizar a noção monolítica de que a emancipação é sempre feliz e boa. Os problemas que surgem com ela devem ser enfrentados, não se deve ficar numa chave militante”, diz o autor. “A modernização é uma adolescente metida a besta julgando a mãe, achando que entendeu tudo.”
Não é para confundir o conservadorismo que Pondé demonstra nessa defesa da tradição com o da chamada nova direita que levou Bolsonaro ao poder, diz ele.
“Essa nova direita que fala na família brasileira tem pouca dialética, pouco vínculo com o olhar ambivalente. Quando eu falo que a modernização é uma adolescente metida a besta, não quero dizer que a mãe deveria mandá-la calar a boca o tempo todo.”
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