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'Cozinha sonora' do Rumo segue firme e criativa

'Universo' é o primeiro CD de estúdio da banda com canções inéditas desde 1988

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Universo

  • Preço R$ 20 (CD)
  • Gravadora Sesc
  • Artista Grupo Rumo

“Universo” é o primeiro CD de estúdio do Rumo com canções inéditas desde 1988. Como o entrosamento é vital num trabalho em que as funções musicais são intercambiáveis entre os membros de faixa a faixa, a competente produção de Marcio Arantes ajuda a minimizar, no álbum, os efeitos do longo tempo sem tocar junto.

Integrada por Paulo Tatit (responsável pela maioria dos arranjos), Hélio Ziskind, Akira Ueno e Gal Oppido, a “cozinha sonora” do Rumo segue firme e criativa.

Ao longo das décadas, Luiz Tatit —o compositor mais célebre do grupo— seguiu gerando sentidos inusitados com cada centímetro semântico passível de virar canção. 

Em “Universo”, a parceria com Ná Ozzetti rende a magnífica “Livro Aberto”, e com o irmão Paulo gera a estupefaciente “Estaca” e a densa faixa-título —que tematiza um de seus assuntos mais caros: a própria confecção das canções, os dilemas artesanais do músico popular.

Se tivesse apenas revelado Ná Ozzetti para o cenário musical brasileiro, o Rumo já teria justificado sua trilha; mas, para além, a escolha cirúrgica das (inconfundíveis) vozes de Geraldo Leite, Pedro Mourão, Hélio Ziskind e dos próprios irmãos Tatit como solistas se mantém como atitude poética forte.

As composições de Zécarlos Ribeiro são uma importante componente do Rumo, reatada agora após ter ficado congelada nos anos 1980. 

Autor de “Ladeira da Memória” e “Falta Alguma Coisa” (ambas de “Diletantismo”, de 1983, um dos melhores discos do grupo), ele radicaliza com calma e doçura o limite possível entre o fluxo heterogêneo do pensamento e a necessidade de estabilidade de um gênero poético-musical.

Há a plácida “não ironia” de “Quando Abrir” (quem —com exceção talvez de Erasmo Carlos— poderia escrever a sério os versos “Eu vou me divertir... Eu vou trabalhar”?), mas há também a estrutura estranha de “Estrela Solitária”, com uma letra que ora foge ora abraça o contorno sonoro regular, e que ao final conquista uma melodia curta e bela.

Há igualmente a fala trivial de pai para filha em “Não se Esqueça” (interpretada por Ziskind com a habitual concentração), e “Senha”, inesquecível na voz de Leite, um quase blues usado para narrar o inferno opressor de uma espera de atendimento público (em uma “coincidência sinistra”, o antebraço da prisioneira no documentário exibido pela TV ostenta exatamente o número 65640, a senha da personagem).

As músicas de Ribeiro não são comparáveis às de nenhum outro nome do cancioneiro popular brasileiro. Gravá-las e tocá-las é razão suficiente para que o Rumo siga se reencontrando e multiplicando o seu legado.

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