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Cinema

Documentário exibe efervescência cultural nos anos 60

'Memórias do Grupo Opinião' reconstitui a trajetória do grupo, tentativa de reação ao golpe de 1964 por meio do teatro

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Memórias do Grupo Opinião

  • Quando Nesta quarta (10), no Sesc 24 de Maio, às 17h. Quinta (11), no Itaú Cultural, às 20h
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Paulo Thiago

Imagens de tanques nas ruas e do incêndio na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1º de abril de 1964, seguem-se aos créditos iniciais de "Memórias do Grupo Opinião", filme de abertura do É Tudo Verdade no Rio de Janeiro —cidade que adquire status de personagem no documentário de Paulo Thiago ("Poeta de Sete Faces", "Coisa Mais Linda").

De cara, o objeto em questão vai além do que o título compreende. Não haveria como reconstituir a trajetória do Opinião sem antes chegar à "grande foto" do Brasil dos anos 1960. É a cena sociopolítica do governo Jango, com os militares já ensaiando a saída dos quartéis, que possibilita compreender, em primeiro lugar, a criação do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, em 1962.

Depois, vem o golpe civil-militar de 1964, a extinção do CPC e a tentativa de reação a ele por meio da criação de um grupo teatral cuja espinha militava no braço cultural da UNE. O núcleo duro era formado por Armando Costa, Denoy de Oliveira, Ferreira Gullar, João das Neves, Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes, Thereza Aragão e Pinchin Plá.

Time dos bons, com destaque, na articulação, para Vianinha (1936-1974) e para João das Neves (1935-2018), cujo depoimento a Thiago, pouco antes de sua morte, orienta boa parte da reconstituição histórica. Outros personagens que continuam em atividade também falam ao documentário, como Antonio Carlos Fontoura, Antonio Pitanga, Cacá Diegues e Carlos Lyra.

As sequências gravadas por Thiago incluem ainda recriações de peças e de shows musicais clássicos do Opinião. Fernanda Takai, por exemplo, interpreta Nara Leão —que, ao juntar-se a Zé Keti e João do Vale no show "Opinião de Lara", dirigido por Augusto Boal, ajudou a batizar o grupo, em dezembro de 1964.

Nara e Maria Bethânia (que depois a substituiu) estão entre as preciosidades do material de arquivo costurado pelo filme entre uma entrevista e outra. Das imagens de ontem acopladas às memórias e às leituras de hoje, um pequeno mundo se revela, fruto de uma efervescência notável.

Entre as suas principais coordenadas, estão a proximidade entre a política e a cultura (ou o entendimento de que cultura é sempre política) e a colaboração e a cumplicidade entre atores, músicos, diretores de teatro e de cinema, artistas visuais e escritores, sem a fragmentação que depois viria a caracterizar o cenário das artes no Brasil.

O festival É Tudo Verdade teria sua abertura no Rio nesta terça (9), mas as sessões foram canceladas por causa das chuvas que atingiram a cidade.

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