Descrição de chapéu
Filmes

Documentário registra desumanização onde ninguém pensa em descanso

'Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar' mostra transformação em cidade do agreste

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cena do filme "Estou me guardando para quando o carnaval chegar", que será exibido no É Tudo Verdade
Cena de 'Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar', que será exibido no É Tudo Verdade - Divulgação

Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar

  • Quando Qui. (11), às 15h, no Estação Net Botafogo, no Rio; às 18h30 e às 21h no IMS Paulista; sex (12), às 15h, no Sesc 24 de Maio; dom (14), às 13h, no Sesc 24 de Maio
  • Classificação Livre
  • Produção Brasil, 2019
  • Direção Marcelo Gomes

No áudio, a voz do diretor pernambucano Marcelo Gomes evoca memórias da infância, quando viajava com o pai ao agreste, lugares tranquilos onde se observava o céu, a chuva chegava depois do Carnaval e o tempo parecia passar bem devagar. Nas imagens, a sucessão de outdoors de confecções na estrada anuncia que muita coisa mudou.

A pensão dos viajantes não existe mais. O espaço agora abriga uma “facção”, termo local para as centenas de confecções dedicadas à produção de jeans. No lugar das camas, o barulho de máquinas de costura enche os dias e as noites. A cidade modorrenta que Gomes conheceu virou um polo industrial onde ninguém pensa em descanso.

A câmera do diretor registra a transformação dos lugares e dos hábitos, capta o ritmo das mãos treinadas dos funcionários, que cortam tecidos, montam e dão acabamento a milhares de peças de jeans. Aos domingos também ninguém para, pois é dia de comercializar a produção.

Cena do filme "Estou me guardando para quando o carnaval chegar", que será exibido no É Tudo Verdade
Cena do documentário 'Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar' - Divulgação

As imagens não mostram o que muitos imaginam ser o ritmo do interior do país. As cenas se assemelham mais às de “Metrópolis” (1927) ou de “Tempos Modernos” (1936), clássicos sobre a desumanização. Mas nas entrevistas os habitantes não reclamam de excesso de trabalho ou da falta de lazer, fora ver TV e dormir.

A opinião predominante é que tudo melhorou, pois não há desemprego e a renda subiu. Só dois entrevistados mais velhos resistiram à moda. Ambos são remanescentes de um passado em extinção, enquanto a cidade inteira só se interessa pelo agora. O futuro, se vier, não é algo que inquieta.

Fora do moto-contínuo das máquinas e do cotidiano, o Carnaval oferece oito dias de folia e praia. Para ter esse direito, muitos vendem geladeira, fogão e TV ou pegam dinheiro com agiotas para cobrir os custos da viagem e esquecer a vida real.

Apesar de narrar na primeira pessoa, Gomes evita sobrepor seu discurso ao dos protagonistas. Seu ponto de vista é melancólico, mas também irônico. Muito mais incisiva é a fala dos personagens, a crença de todos no presente eterno enquanto fazem de conta que as máquinas não estragam e que um dia serão substituídas.

 
 
 
 
 
 
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.