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'Duas Rainhas' expõe como barbáries antigas ainda ressoam atuais

Permeado pela leitura feminista, longa mostra bastidores dos embates da realeza no século 16

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Duas Rainhas (Mary Queen of Scots)

  • Quando Estreia nesta quinta (4)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Saoirse Ronan, Margot Robbie, Jack Lowden
  • Produção EUA, Reino Unido, 2018
  • Direção Josie Rourke

Veja salas e horários de exibição

Às vésperas de completar 25 anos, Saoirse Ronan tem uma carreira de números invejáveis: três indicações ao Oscar, quase 30 filmes realizados. Em uma comparação que talvez dê a dimensão do feito, Meryl Streep —que detém o recorde de 21 nomeações ao prêmio máximo do cinema americano—, teve sua primeira menção apenas pouco antes de completar 30 anos.

Em papéis tão desafiadores quanto diversos, Ronan faz da versatilidade um triunfo: do vigor adolescente de “Lady Bird” (2017), perpassando pela elegância de “Brooklyn” (2015), em trajetória singular impulsionada por “Desejo e Reparação” (2007), a atriz está de volta aos cinemas, agora no drama histórico “Duas Rainhas”. 

Dirigido por Josie Rourke, diretora teatral, estreante no cenário cinematográfico, o filme conta a história de Mary Stuart (Saoirse Ronan). 

Rainha consorte da França aos 16 e viúva dois anos depois, a soberana volta em 1561 à Escócia, sua terra natal, para reivindicar o trono ocupado por sua prima, Elizabeth 1ª (Margot Robbie). É na relação ambivalente entre as duas, oscilante entre admiração e rivalidade, que o longa estrutura a sua narrativa.

Como é de se esperar da cartilha de filmes históricos, o espectador terá acesso aos bastidores dos embates da realeza, com as doses habituais de paixões, violência, guerra, sempre mediadas pelos protocolos costumeiros que envolvem as tramas reais.

O diferencial fica por conta da grata leitura feminista que permeia o drama: a sagacidade das mulheres, com seu senso estratégico acurado, terá obstáculos —por vezes, intransponíveis— na ignorância e brutalidade masculinas. No xadrez político das protagonistas, parece triunfar aquela que menos se deixar levar pela mentalidade dos homens.

Às problematizações políticas, somam-se questões caras ao universo feminino da época, que, sem dificuldade, podem ser transpostas à contemporaneidade: maternidade —em constante tensão com as ambições de poder—, liberdade sexual,  violência de gênero, além dos tabus e restrições conservadoras impostas ao corpo feminino.

“Foram discussões instrutivas sobre o quão honestas estávamos sendo sobre o corpo das mulheres e o seu uso, sobre o prazer feminino e a sua definição, além do corpo da rainha como arena política. Senti que era algo que eu nunca tinha visto antes; por isso, queria mostrar. Não há muitas de nós que sabem o que é ser rainha —mas o que sabemos, com certeza, é sobre a sensação de lutar pelos direitos de nossos corpos”, afirmou a diretora Josie Rourke ao The Guardian.

Politicamente incisivo —ainda que baseado em fórmulas um pouco desgastadas de filmes de reconstituição histórica—, “Duas Rainhas” é também cuidadoso na técnica, com fotografia e cenografia impecáveis, criando a atmosfera ideal para que o talento de sua dupla de protagonistas possa atingir potencial máximo. Assim como Saoirse Ronan, Margot Robbie —mais conhecida por “Eu, Tonya” (2017), no papel da patinadora Tonya Harding—, comprova a sua polivalência artística.

Ao final de duas horas e cinco minutos, “Duas Rainhas” deixa a impressão de que se beneficiaria de uma duração menor, correndo o risco de gerar certo cansaço ao longo de seu desenvolvimento. Nada grave, porém, para um filme que acerta em expor como as barbáries de tempos distantes ainda ressoam incomodamente atuais.
 

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