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Cinema

'Em Trânsito' amplifica metáforas de fuga e exílio e as torna contemporâneas

Adaptação de romance de 1944, longa mostra luta para fugir das forças fascistas na França atual

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Em Trânsito (Transit)

  • Quando Estreia nesta quinta (11)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Franz Rogowski, Paula Beer, Maryam Zaree, Lilien Batman
  • Produção Alemanha/França, 2018
  • Direção Christian Petzold

Veja salas e horários de exibição

Um homem foge da polícia, que faz uma batida para identificar suspeitos de clandestinidade. Em seguida, nas ruas de Marselha, encontra outras pessoas que lutam para conseguir vistos e escapar do avanço de forças fascistas. Não se veem, no entanto, nazistas em uniformes inconfundíveis e os figurinos, carros e cenários de “Em Trânsito” indicam que estamos no presente.

A primeira cena do novo longa do alemão Christian Petzold reproduz o início de “Os Carrascos Também Morrem” (1943), thriller antinazista dirigido por Fritz Lang no auge da Segunda Guerra. Por sua vez, a trama sobre fugitivos acuados em uma cidade sitiada evoca “Casablanca” (1942), obra mais conhecida como ícone do cinema romântico do que como panfleto político. Mas o inimigo agora é (ou parece ser) outro.

Sondar fantasmas atuais sob medos do passado é uma das singularidades de Petzold. Ter de fingir para escapar da ameaça constante do regime comunista na Alemanha Oriental ou perder a face num campo de concentração e simular outra identidade são motivos de longas recentes.

Ao adaptar um romance de 1944 da escritora alemã Anna Seghers, o cineasta estabelece uma ponte entre as angústias políticas do mundo contemporâneo, frequentes nos seus primeiros filmes, e o diálogo com a tradição cinematográfica por meio da releitura do melodrama, estratégia comum em seus últimos filmes.

Enquanto o romance de Seghers registrava no calor da hora a situação de um grupo de fugitivos do nazismo forçado à clandestinidade em Marselha, Petzold abole a distância ao incorporar a situação atual de imigrantes e refugiados, indivíduos que cruzam o Mediterrâneo para viver obrigados a ficar trancados ou ocultados.

Para intensificar as semelhanças, o apagamento dos sinais de época desafia o que se costuma considerar como anacronismo. O efeito mais fascinante aparece no modo como o diretor expande a ideia de entre dois —mundos, épocas— ao incorporar cada movimento do protagonista.

A troca de identidade com um escritor é um ponto de partida de um jogo de desaparecimentos, fingimentos e deslocamentos. Assim, Petzold amplifica as metáforas da fuga, do exílio e da deriva, comuns no cinema moderno, e as torna contemporâneas, quando ninguém mais sabe quem é.

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