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Estilo de St. Vincent é soco na meiguice atormentada e no despudor de novatas

Cantora americana é uma das atrações do Lolla Party, evento paralelo ao festival

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São Paulo

O rock é rock não apenas pelos riffs e solos, mas porque as bandas entregam desde os anos 1960 um visual sedutor. Mods, teds, hippies, punks. Movimentos de estilo do século 20 atingiram a cultura pop porque estavam vinculadas aos novos ritmos — e vice-versa. 

A americana do estado de Oklahoma Anne Erin Clark, 36, conhecida como St. Vincent, reconhece isso como poucos músicos desta geração. Sua apresentação no Lollapalooza, na sexta-feira (5), em São Paulo, foi um soco na meiguice atormentada das Lanas del Rey de última hora e no despudoramento das aspirantes a Beyoncé.

 

A selvageria, no caso dela, faz parte de um pacote lisérgico mutável conforme as ondas, mas não as das tendências, e sim de sua própria música. Suas gargantilhas de tule, bodies de couro e botas altas de vinil seguem o padrão cromático das luzes, ora negras, ora rosáceas, que evoluem junto ao setlist envernizado pelo jazz e o eletrônico. 

Para o show do Lolla Party — evento paralelo ao festival —, na casa paulistana Cine Joia, na quinta (4), ela causou furor com um par de botas de vinil cor-de-rosa que subia até o alto das coxas. Já no palco Adidas do Lollapaloza, no dia seguinte, usou um look semelhante, porém todo preto.

 

Ela confunde, propositalmente, a profusão de cores dos 1980 e o exibicionismo das décadas seguintes para criar uma espécie de sexy vintage, juntando essas duas versões de estilo antagônicas para tornar fresca a imagem do engomado pela moda.

 
Numa época em que álbuns visuais ganham a indústria ao serem lançados como óperas cinematografadas, nas quais todas as músicas são empacotadas em videoclipes milionários, ela parece querer sair na frente ao transformar seus shows em operetas instagramáveis, nas quais nenhum pano é por acaso.
 

Fora dos palcos, nas sessões de fotos em que posa para revistas de moda, a cantora passeia pela imagem quase andrógina, só que romantizada por looks Gucci ou Céline. O brilho do glam rock a acompanha, mas sempre enlatado por etiquetas.

Apontada como “queer”, não encaixa sua sexualidade, sonoridade ou imagem em padrões. Tão ruidosos quanto seus relacionamentos amorosos com a modelo Cara Delevingne e a atriz Kristen Stewart são suas notas complexas, unidas a som agressivo e voz adocicada.

Como se lutasse pela não padronização do estilo e do comportamento, dois elementos importantes para sagrar o legado de um roqueiro, Clark dá rosto e guarda-roupa à nova cultura jovem, uma autointitulada despida de rótulos mas embalada em alta voltagem visual.

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