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Cinema

Filme é simpático a Mike Wallace e revela pouco

Documentário com trajetória do jornalista de 60 Minutes abre o festival É Tudo Verdade

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Mike Wallace Está Aqui

  • Quando Nesta quinta (4), às 16h, no Instituto Moreira Salles. Sáb. (6), às 15h, no Centro Cultural São Paulo
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Avi Belkin

O mais curioso em "Mike Wallace Está Aqui" é a origem bastarda do 60 Minutes, o programa de maior prestígio e audiência no telejornalismo americano ao longo das últimas cinco décadas.

​Foi criado em 1968 por Don Hewitt tendo Wallace (1918-2012) como sua face pública, ambos "outsiders" na CBS dos anos 1960. Eram supostamente olhados com desdém por colegas como o âncora Walter Cronkite, ainda hoje a referência da cobertura de respeito nos Estados Unidos.

De início, 60 Minutes e seu apresentador-entrevistador também não tiveram audiência expressiva. O que fez o programa, pelo que indica Wallace, foi Watergate.

Foi o fato de ouvir protagonistas do escândalo, como os jornalistas do Washington Post, precedendo o cinema ao alçá-los a celebridades, e sobretudo os homens do presidente Richard Nixon.

O tom autodepreciativo de Wallace e também de Hewitt ao falar do programa se espalha pelo documentário e evita que o personagem-título seja transformado também em celebridade jornalística.

Sua trajetória pessoal é costurada engenhosamente a outros dois momentos do 60 Minutes —a resistência da CBS ao processo de um general, que queria US$ 120 milhões por uma entrevista dada em 1982, e a submissão da CBS às pressões da indústria do cigarro, contra a transmissão da entrevista de um ex-executivo em 1995.

No primeiro caso, o jornalista é questionado publicamente por não ter elaborado todas as perguntas que fez ao general. Junto com a morte de um dos filhos, o processo é dado como gatilho para a depressão em que ele caiu, a ponto de ter tentado se matar.

No segundo caso, destaca-se a sua reação contra a CBS por ter cedido às pressões, em viés mais simpático a Wallace do que aquele mostrado no filme "O Informante" (1999). Mas vem à tona, de novo, que era dependente de sua equipe para as perguntas.

Contraditoriamente, o filme de Avi Belkin o apresenta de maneira geral como o jornalista que estabeleceu o paradigma das perguntas difíceis, das entrevistas agressivas. Na abertura e no final, é o que o filme deixa no ar, de forma pouco convincente, como o seu "epitáfio".

Sem ouvir ninguém, limitando-se a editar vídeos de Wallace na CBS e outros, o documentário acaba imaginando elos artificiais com o estado atual dos EUA e da mídia, como uma filiação inventada por Bill O'Reilly, entrevistador desastroso que seria afastado depois da Fox News, e as menções extemporâneas a fake news e Donald Trump.

O título "Mike Wallace Está Aqui" dá a entender que seu legado persiste, daí o destaque a O'Reilly. Melhor ficar com seus primeiros passos, com as curiosidades.

Por exemplo, quando ele descobriu que tinha voz para o rádio, para garoto-propaganda, o que levou depois à TV, vendendo de sabão a tabaco. A marca Parliament patrocinou entrevistas suas nos anos 1950. Wallace abria com cigarro na mão e seguia fumando em cadeia até o fim.

 
 
 
 
 
 
 
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