Emparedada nas redes sociais após ter permitido a exibição de um filme pró-golpe militar em seis cidades brasileiras, a rede Cinemark informa que um erro de procedimento esteve por trás da projeção do documentário “1964: O Brasil entre Armas e Livros".
Em nota enviada à imprensa, a rede de cinema informa que "não se envolve com questões político-partidárias" e que não autoriza em seus complexos a divulgação de "mídia partidária, tampouco eventos de cunho político." A atitude seria uma diretriz internacional da empresa.
À reportagem, a Cinemark informa que foi procurada há algumas semanas por um grupo interessado em alugar salas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Curitiba.
É praxe que a empresa só autorize o aluguel de seus espaços após ser informada do conteúdo do que será exibido. O erro de procedimento, no caso, foi que funcionário responsável por permitir a cessão das telas teria autorizado o uso sem inquirir o grupo a respeito do que seria projetado.
A rede só se deu conta de que as salas havia sido alugadas para mostrar um filme pró-golpe militar no sábado (30), véspera do evento, marcado para ocorrer justamente na data que marca os 55 anos do evento histórico. Seria tarde demais, portanto, para cancelar a projeção.
"1964" é uma produção do grupo Brasil Paralelo, dirigida por um coletivo de diretores, entre eles Henrique Zingano. A produtora gaúcha é especializada em lançar filmes sobre a história do país adotando um viés de direita, como é o caso do filme que originou a controvérsia com a Cinemark.
O documentário, que levou quase dois anos para ser feito, compila entrevistas com figuras como o ideólogo Olavo de Carvalho e sustenta a tese de que os militares só tomaram o poder no Brasil em 1964 porque o então presidente, o civil João Goulart, preparava aderir ao bloco comunista.
A exibição do filme atraiu dezenas de pessoas às cidades em que ele foi programado. Mas causou uma celeuma nas redes sociais, dos dois lados do espectro ideológico.
À esquerda, a Cinemark foi criticada por permitir a projeção de um filme que defende a instauração de um regime responsável por censura, torturas e assassinatos.
À direita, a rede foi alvejada porque a exibição no Rio acabou não acontecendo, o que despertou suspeitas de censura e originou até uma hashtag no Twitter, conclamando um boicote à rede de cinema. O que houve no caso, segundo a rede, é que aconteceu um problema técnico nos arquivos digitais do filme, que não permitiu que o filme passasse.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, foi um dos que puxaram o coro, afirmando que a Cinemark havia dado uma "desculpa esfarrapada" a respeito da não exibição no Rio.
"1964" faz parte de uma onda de filmes que procuram trazer uma outra visão, de direita, sobre os eventos da história do Brasil. O que há de comum entre muitos deles é o fato de serem dirigidos por cineastas que foram alunos do curso dado pelo ideólogo Olavo de Carvalho, como Josias Teófilo e Mauro Ventura.
O último fim de semana, que marcou os 55 anos do golpe militar, foi marcado por protestos em várias cidades brasileiras e confrontos entre manifestantes que celebravam e que marchavam contra o evento.
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