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Marcelo Rubens Paiva reescreve contos para a era do politicamente correto

Com 29 textos, 'O Homem Ridículo' aborda relações entre homens e mulheres

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São Paulo

A um mês de completar 60 anos, Marcelo Rubens Paiva lança seu décimo tanto livro (“já perdi conta, acho que são mais de 15”), com 29 contos e crônicas abordando relações entre homens e mulheres (“são casamentos, traições, namoros”), mas com uma pegada totalmente século 21: levando em conta o empoderamento feminino (“as coisas mudam, né?).

Algumas das histórias de “O Homem Ridículo” são inéditas, mas outras foram transformadas por Paiva à luz dos dias de hoje. Contos que já saíram na Folha, no jornal Estado de S. Paulo, na revista Vogue e mesmo em antologias do tipo “As 100 Melhores Crônicas” foram revisitadas, retrabalhadas e reescritas.

O lançamento é na terça-feira (2), na Mercearia São Pedro, com show ao vivo da banda Saco de Ratos, do amigo Mario Bortolotto.

Ele exemplifica o que o incomodava: “Tinha uma frase em uma delas que dizia assim: ‘ela gosta de ser cantada na rua, mas não gosta de assédio’. Ora, mas ser cantada na rua é assédio! A gente achava que não, né?”.

A cena está em “A Garota de Preto”, uma declaração de amor às mulheres paulistanas. Vamos à página 55 do novo livro para ver como o autor resolveu a sinuca: “Adora elogios. Detesta galanteios. Adora presentes. Odeia insistentes. Quer ser cortejada. Jamais abusada”.

“É”, responde Paiva, à questão sobre se estava tornando seus textos antigos politicamente corretos. "Apesar de não gostar muito desse termo, é tornar politicamente correto, sim.”

“Eu defendo Monteiro Lobato. Acho que não se pode mexer no texto dele, porque a obra mostra uma época”, diz, referindo-se à polêmica recente sobre o livro “Caçadas de Pedrinho”, que traz cenas consideradas racistas e, por isso, houve discussão sobre retirar certas frases em novas edições.

“Mas meu caso é diferente. Eu tenho a capacidade de mudar, porque estou vivo. E não vejo por que não fazer isso”, afirma. “Não tenho o menor constrangimento. Fiquei feliz de ver parte desse material, que estava indo pro esquecimento, voltar à tona dessa forma.”

“O discurso mudou. E é claro que sou totalmente a favor da mudança. Eu sou cadeirante e sofro do mesmo tipo de preconceito. Também procuro um lugar de fala e me identifico com o novo tempo.”

Aliás, diz ele, já fez isso com diversas obras suas. “Sempre que vai ter edição nova de ‘Feliz Ano Velho’, por exemplo, eu pego o arquivo de Word e reescrevo partes.”

Falando em “Feliz Ano Velho”, best-seller de 1982 no qual relata sua vida de estudante e o acidente que lhe tirou os movimentos das pernas, e começando por ele, grande parte da obra de Paiva é autobiográfica, ou, se não, escrita em primeira pessoa.

Não é o caso dos textos de “O Homem Ridículo”, cuja maioria vem em terceira pessoa. “Gosto muito de Jonathan Franzen [autor americano de “As Correções” e “Liberdade”] e li uma entrevista há um tempo no qual ele dizia que livro bom é livro em terceira pessoa. Depois disso, comecei a escrever assim e isso me deu uma liberdade muito grande.”

Apesar de grande parte dos contos vir envolto em problemas de relacionamento, o tom é no geral otimista.

“Acho que amadureci”, diz ele, que se separou há oito meses. Apesar disso, os dois filhos do casal, Joaquim, de cinco anos, e Sebastião, de três anos, não foram morar com a mãe. Vivem com ele. Isso é que é pai do século 21.

O Homem Ridículo

  • Quando Lançamento: terça (2/4), às 19h,
  • Onde Mercearia São Pedro (r. Rodésia, 34, Vila Madalena)
  • Preço R$ 44,90 (180 págs.)
  • Autor Marcelo Rubens Paiva
  • Editora Tordesilhas
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