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Artes Cênicas

Musical 'Sunset' vale pelos minutos de 'As If We Never Said Goodbye'

Marisa Orth confirma que sabe cantar, mas se constrange no espetáculo de Andrew Lloyd Webber

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Sunset Boulevard

  • Quando Qui. e sex.: 21h. Sáb.: 17h e 21h. Dom.: 15h e 19h. Até 7/7
  • Onde Teatro Santander, shopping JK. av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041, Vila Nova Conceição
  • Preço R$ 75 a R$ 290
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Marisa Orth, Daniel Boaventura, Julio Assad

Marisa Orth é, de fato, uma cantora em “Sunset Boulevard”, como ela vem anunciando —e ironizando— publicamente. Preparou-se para Sir Andrew Lloyd Webber.

Não é mais a atriz que canta, mas a cantora segura, consciente do alcance ou, talvez melhor, dos limites de sua voz em cada verso. Cena após cena, disciplinada, ela não vai além do que pode sustentar.

Ao mesmo tempo, quem a assistiu antes em shows, cabaré e já no teatro musical sente a ausência da atriz que avançava sobre as canções com arrebatamento, sem se apegar ao monitoramento técnico e, até pelo contrário, voltando-se toda ao drama ou ao riso soltos.Eventuais deslizes pareciam compor ainda mais genuinamente as suas personagens.

Com uma exceção evidente, em cena célebre, o que se tem diante de “Sunset” é saudades de Marisa Orth, das performances em que seu carisma aflorava mais naturalmente. Mas o problema do musical vem antes do “score”, da composição.

Lloyd Webber se inspirou em trilhas hollywoodianas e reciclou em parte algumas melodias que já havia criado, o que, somado ao fato de que o segundo ato reprisa muitas das canções do primeiro, deixa a sensação recorrente de já ter ouvido aquilo tudo em algum lugar.

Também não ajuda que a trama ecoe tanto “O Fantasma da Ópera”, sua maior criação, datada de uma década antes, transferindo do teatro lírico para o cinema hollywoodiano as situações e até os ambientes do artista recluso, esquecido.

Mas a protagonista tem como romper com os vícios de origem de “Sunset”, se rebelar, pelo menos é o que se conta de Glenn Close, que assumiu o papel e contrastou com as experiências frustradas, antes e depois. Close que, apesar da voz pequena, já foi escalada para o filme que será produzido com base no musical.

Em tempo: a personagem principal, que mora numa velha mansão no bulevar Sunset (pôr-do-sol) em Los Angeles, é Norma Desmond, estrela do cinema mudo, apagada por décadas e que, ao encontrar um jovem roteirista, envolve-se com ele e busca retornar.

Cenas e até diálogos do musical seguem o mais possível o filme de Billy Wilder, de 1950, a ponto de o cineasta americano, ao ver pela primeira vez, ter elogiado a fidelidade —e soltado a piada de que daria um bom filme.

A cena mais festejada, desde as primeiras apresentações, é a que Desmond visita o estúdio, no esforço de estimular seu retorno. Ela se vê de volta ao foco de luz e canta “As If We Never Said Goodbye”, como se nunca tivéssemos dado adeus.

A impressão é de que o musical poderia começar e terminar ali. A canção, com a exploração simultânea de grandeza e fragilidade, não à toa se tornou a única “standard”, com vida própria, gravada até por Barbra Streisand.

Marisa Orth emociona também na cena, que poderia por si só levá-la a prêmios, à glória, não fosse o resto, do sobe-e-desce na escadaria a um paródico “estou pronta para o meu close” no final. Sua voz naqueles minutos é também contida, mas ela parece explodir por dentro, em felicidade e ilusão, às portas da insanidade.

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