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Produções mostram a faceta rebelde, pacificadora e pop de Jesus Cristo

Três estreias e um final de novela no período da Páscoa aumentam as versões da mesma história

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São Paulo

A crucificação, prática de tortura que consiste em pregar os membros do condenado a dois paus que se cruzam, foi abolida em 337 d.C. pelo imperador Constantino, o Grande. Ele havia sido motivado pela veneração que desenvolveu por Jesus Cristo.

Essa é uma das contribuições para a humanidade iniciadas pela trajetória de um homem que se dizia filho de Deus, nascido de uma mulher virgem —casada com um carpinteiro—  e que resolveu se rebelar contra o Império Romano pregando a paz.

Passados 2019 anos de seu nascimento, o cinema, o teatro e a TV continuam dando versões e mais versões para a mesma história.

Nós sabemos que no final o protagonista morre, mas o que importa um spoiler frente a uma vida que inspirou, desde a fundação do cinema no fim do século 19, no mínimo 2.095 produções audiovisuais? O dado é de um levantamento da Folha a partir da base de dados do site IMDb, o mais completo índice de títulos da indústria audiovisual. 

A Páscoa, competindo com o Natal, é o período em que as estreias sobre Jesus encontram mais espaço nas salas de cinema e na TV. E é fato que essa tradição está ganhando volume, ao menos em números absolutos, nas últimas décadas. 

Houve um boom em 2012. Naquele ano foram produzidos no mundo pelo menos 176 filmes, séries ou novelas que tinham Cristo ou Jesus (e em alguns casos os dois nomes) em seu título.

Mas, se considerarmos a relação entre estreias sobre Jesus e o número total de lançamentos naquele mesmo ano, Cristo teve seu ápice em 1903, quando para cada mil filmes que estreavam, 5,6 tinham Cristo ou Jesus no nome. Foi quando estreou justamente o clássico mudo "A Vida e a Paixão de Jesus Cristo", de Ferdinand Zecca e Lucien Nonguet (há uma cópia no YouTube, vale a pena ver). 

Raramente houve um ano em que foram lançados mais de um título sobre Jesus para cada outros mil. Em 2004, ano em que estreou "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, por exemplo, houve outros 44 lançamentos que mencionavam Jesus no nome, porém isso representou um total de apenas 0,38 produções audiovisuais para cada mil que foram ao ar.

Também é possível considerar que o sucesso estrondoso de "Jesus Cristo Superstar" em 1973 (a peça que deu base ao filme é de 1971) causou uma espécie de ressaca no ano seguinte. Depois da versão hippie, apenas um lançamento tinha Jesus e/ou Cristo no nome, em 1974.

Neste ano de 2019, já foram anunciadas ao menos 34 produções sobre Cristo, sendo que o catálogo de amor, paz, fé e união forma uma vitrine mais robusta neste período de Páscoa. Há ao menos duas grandes produções recém-lançadas ou para estrear na TV paga, entre elas "Eu Conheci Jesus", do History.

A minissérie apresenta uma abordagem diferente. São quatro partes e oito horas de duração nas quais explora-se a vida de Jesus Cristo a partir do olhar das pessoas que conviveram com ele.

São depoimentos ficcionais, protagonizados pela Virgem Maria, José, João Batista, Caifás, Judas, Pôncio Pilatos, Maria Madalena e Pedro. Os docudramas também incluem entrevistas com figuras religiosas e historiadores.

O que dá base aos capítulos são os diversos evangelhos, mas há a adição de um ingrediente —aprofunda-se, por exemplo, a história dos reis magos. Nos Estados Unidos, segundo dados do canal, a produção alcançou 1,9 milhão de telespectadores.

Na quinta-feira (18), estreou também, no cinema, o filme "Jesus de Nazaré: O Filho de Deus", produzido em 2017 (um ano em que outros 114 títulos continham as palavras Jesus e/ou Cristo).

"Jesus de Nazaré" é uma produção com atores latino-americanos e pelo menos um rosto bastante conhecido no Brasil —o ator Sérgio Marone interpreta Pôncio Pilatos. 

Não é a primeira investida religiosa do intérprete. Ele já fez Ramsés 2º em "Os Dez Mandamentos", da Record.

Os outros dois produtos religiosos a serem lançados até o fim do mês são o último capítulo da novela "Jesus", da Record, que vai ao ar no dia 22, e a terceira temporada da série indicada ao Emmy "A História de Deus", que é apresentada por Morgan Freeman. Vai ao ar no National Geographic, a partir do dia 27.

Paula Richard, autora da novela da Record, acredita que a quantidade de produções religiosas nos dias de hoje pode ser explicada pela atualidade das mensagens. "Jesus traz ensinamentos simples, mas capazes de mudar o mundo. Se cada um amasse o próximo como a si mesmo, se não julgasse e não atirasse a primeira pedra, creio que muitos problemas da sociedade moderna estariam resolvidos", afirma.

Segundo ela, a figura de Jesus traz um valor esquecido, porque "ele se ira com religiosos hipócritas, mas não com os pecadores". A dramaturga, que por causa do ofício conheceu mais profundamente os personagens bíblicos, acha que aqueles que rodeavam Cristo determinam novos sentidos à história.

"A cena da crucificação não é a mesma quando você conhece a vida e a trajetória dos personagens que a presenciaram," diz a autora.

Já a terceira temporada de "A História de Deus", de veia mais filosófica, é dividida em seis episódios: "A Busca pelo Diabo", "Deuses entre Nós", "Visões de Deus", "Pecados Capitais", "Os Mandamentos" e "Segredos Divinos".

As cenas são gravadas ao redor do mundo, em lugares considerados sagrados, como a capela de Lourdes, na França, onde religiosos afirmam terem sido curados pelas águas de sua fonte; na Basílica da Natividade, em Belém, onde os fiéis acreditam que Jesus nasceu; e na antiga cidade de Pérgamo, na Turquia, onde se diz que o trono de Satanás está localizado.

Eu Conheci Jesus

  • Quando Às 22h30
  • Onde No History Channel, até 21/4

Jesus de Nazaré: O Filho de Deus

  • Onde Em cartaz nos cinemas

A História de Deus

  • Quando A partir do dia 27, às 22h30
  • Onde Na Nat Geo

Jesus

  • Quando Último capítulo no dia 22, às 20h45
  • Onde Na Record
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