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Professor de longeva oficina literária lança manual da escrita de ficção

Livro compila as técnicas de Luiz Antônio de Assis Brasil

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O escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, em Porto Alegre
O escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, em Porto Alegre - Tadeu Vilani, Agência RBS/Folhapress
Porto Alegre

No início da carreira de escritor, Luiz Antônio de Assis Brasil buscava as respostas que hoje ensina aos seus alunos na oficina literária mais antiga do Brasil em funcionamento, com 34 anos ininterruptos de formação de novos ficcionistas.

Era comum ele procurar romancistas mais experientes para tirar dúvidas. Em uma dessas ocasiões, perguntou ao também gaúcho Josué Guimarães (1921-1986) sobre coerência e consistência da personagem na história. Mesmo em tom de brincadeira, recebeu uma lição.

“Ele me disse: É assim, ó. Se a personagem vai morrer de tuberculose pulmonar no décimo capítulo, tem que tossir um pouquinho no quinto capítulo, tem que ir pro hospital no sétimo e depois morre”, relembra Assis Brasil durante entrevista na sua casa, na zona sul de Porto Alegre.

Fica ali o seu escritório, onde escreve e prepara suas aulas do mestrado e doutorado em Escrita Criativa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), cursos também pioneiros no país na área. 

Na estante, algumas prateleiras são reservadas para as obras de alguns dos alunos que passaram pela sua oficina. Entre eles, nomes como Daniel Galera, Paulo Scott, Carol Bensimon, Michel Laub, Júlia Dantas, Débora Ferraz e Leticia Wierzchowski.

As técnicas aprendidas pelos pupilos agora estarão disponíveis para todos interessados em escrever. Autor de 20 livros e ganhador de prêmios como Portugal Telecom, Machado de Assis e Açorianos, Assis Brasil lança agora “Escrever Ficção: Um Manual de Criação Literária”.

O livro, mesmo na fase de pré-venda, já estava entre os mais vendidos de sua categoria, na Amazon e é resultado de uma proposta de Luiz Schwarcz, editor e presidente do Grupo Companhia das Letras.

“O convite foi irrecusável. Os argumentos eram bastante fortes, como o fato de que muitos autores da casa foram meus alunos, é um grupo considerável. São pessoas que estão aí fazendo sucesso, com sucessivas edições, também em outras editoras. Se não houvesse esse convite, é possível que esse livro não existisse”, conta o escritor.

No manual, Assis Brasil enfatiza a importância de se preocupar em ser competente antes de imaginar o sucesso.

O lembrete tem uma razão. Ao longo dos mais de 40 anos como escritor, se deparou com interrogações sobre como organizar uma sessão de autógrafos e inscrever a obra em prêmio. As dúvidas poderiam até ser naturais, exceto por um detalhe: partiam de quem ainda não tinha escrito nenhum livro.

Em “Escrever Ficção”, o professor privilegia “aquilo que realmente importa na ficção, que são bons personagens provocando tramas que encantam os leitores” —a história “fica em segundo plano”. Quanto às aulas presenciais, as considera uma responsabilidade “assustadora” e “perturbadora”.

“Tem gente que larga tudo, larga emprego. Deixam o Norte, o Nordeste para passar um frio do cão no inverno gaúcho, com todos os transtornos de uma mudança. Mas isso mostra que são determinados. É uma responsabilidade”, diz.

“Por vezes vejo até com pânico. E se não der certo? Mas sempre digo: você é livre para fazer isso, não posso assegurar que você será escritor, mas farei o meu melhor. As pessoas querem competência profissional, não estão ali só para dar uma melhoradinha no texto”, conta.

É essa busca por excelência que Assis Brasil acredita que será o legado que a atual geração literária deixará para o futuro.

“Esse momento vai ser entendido como de muita vitalidade, de uma explosão do eu, de uma explosão da literatura de gênero, de literatura LGBT, vejo pelo que meus alunos escrevem. Isso não é bom nem mau, isso é como é. E, somando-se a esses fatores, uma busca de rigor formal.”

Escrever Ficção: Um Manual de Criação Literária
Luiz Antônio de Assis Brasil. Ed. Companhia das Letras, R$ 63,90 (400 págs.)

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