Descrição de chapéu Moda

Se o brinde é pipoca, não quero mais ser blogueiro de moda

Presentes dos eventos de comida são melhores, ouso dizer

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São Paulo

O jornalista especializado em assuntos fúteis —gastronomia, moda, viagem, afins— está em vias de extinção. O universo agora conspira para nos transformar em influenciadores. Em blogueiros, instagrammers, youtubers.

No inferno, o capeta pede abraços. Melhor se deixar levar. Digital influencer que me tornei, fui chamado para uma viagem radical na estrada da lacração. Por um dia, virei blogueiro de moda.

Modelo antes de desfile de Lenny Niemeyer - Nacho Doce/Reuters

E lá estou eu, na fila para assistir a um desfile da São Paulo Fashion Week. Um colega me passa a cola: a estilista se chama Patricia Viera e é especialista em peças de couro.

Meus companheiros de fila são exuberantes. Um rapaz num macacão branco aberto no peito, com estampas verdes de folhas tropicais, o Elvis da mata atlântica. Uma moça com peruca dourada de melindrosa. Um casal de jovens, ambos em padrão de oncinha —um na estampa da blusa, o outro na pintura do cabelo.

Na sala dos desfiles, faz calor, e se espalha pelo ambiente o cheiro adocicado de dezenas de perfumes misturados. Todos caríssimos. A plateia se acomoda em longos bancos de madeira sem encosto. Cadê o glamour? Na primeira fila, sacolas com brindes. Agora entendo por que os diabos que vestem Prada se estapeiam para ficar na primeira fila. 

Sento em meio às minhas colegas blogueiras. À esquerda, três garotas postam freneticamente suas selfies. À minha direita, a elegante mulher puxa conversa comigo, com sotaque. Camila é uma blogueira e fashion consultant colombiana. Tem 25 mil seguidores no Instagram.

O desfile começa pontualmente 30 minutos depois da hora marcada. Flanam mulheres impossivelmente altas, magras e com mãos proporcionalmente enormes.

Não tenho muito a comentar. Preciso fazer a Glória Pires, porque me esqueci de pesquisar essa parte. Treze minutos mais tarde, o desfile acaba. Saio suado e com a bunda doendo. Doeria mais se eu tivesse as nádegas descarnadas das modelos e blogueiras.

Procuro a colombiana, que havia pulado para a fila do gargarejo. Quero saber o que há na sacola. Maquiagem barata e pipoca artesanal industrializada (você leu certo). Os brindes dos eventos de comida são melhores, ouso dizer. 

Cansei. Não quero mais ser blogueiro de moda.

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