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Zé Celso diz que nasceu cineasta e vira femme fatale diabólica no cinema

Em 'Horácio', diretor do Oficina interpreta seu primeiro protagonista, um gay contrabandista de cigarros no Bexiga

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Horácio (Zé Celso) é ameaçado por Milton (Marcelo Drummond) em cena do filme de Mathias Mangin Divulgação

São Paulo

​"Eu nasci cineasta", diz um dos nomes fundamentais do teatro brasileiro.

"Em Araraquara, no interior de São Paulo [onde passou a infância], ia ao cinema todos os dias. Minhas peças têm ligação com os filmes de diretores italianos como Pier Paolo Pasolini e Luchino Visconti, russos como Serguei Eisenstein, e outros", conta Zé Celso Martinez Corrêa, 82, diretor e ator do Teatro Oficina.

Ele tem vivido o teatro intensamente desde o final dos anos 1950, mas fez pouquíssimos filmes nesse período. Depois de participar de longas como "A Caminho das Índias" (1982) e "Árido Movie" (2005), Zé Celso reencontra o cinema e, pela primeira vez, assume o papel principal.

Em "Horácio", que chega agora aos cinemas, ele interpreta o personagem-título, um chefe de quadrilha de contrabando de cigarros.

Vive em um insólito apartamento no bairro do Bexiga, em São Paulo, junto com a filha Petula (Maria Luisa Mendonça) e o capanga Milton (Marcelo Drummond). Quando percebe que a polícia está perto de capturá-lo, Horácio planeja uma fuga para o Paraguai.

"O Zé trouxe desenvoltura e radicalidade para o personagem. Seus gestos, por exemplo. A maneira como toca o Milton, como olha para ele. Horácio e os outros personagens são movidos por pulsões", afirma Mathias Mangin, que faz a sua estreia na direção de um longa-metragem.

O filme é, em vários sentidos, um tributo ao Oficina. Quase todas as cenas de "Horácio" foram rodadas no Bexiga, onde fica o teatro projetado por Lina Bo Bardi.

Além de Zé Celso, estão no elenco outros atores ligados à companhia, como Drummond, Sylvia Prado e Ricardo Bittencourt. Maria Luisa não integrou o grupo, mas chegou a ser convidada para participar da montagem de "Cacilda". Não pôde aceitar porque já tinha outros compromissos na época.

Apesar de toda essa bagagem teatral, as interpretações não seguem um estilo mais associado ao palco, em geral, mais expansivo. "Não caí no perigo de fazer teatro filmado", afirma Mangin.

Tampouco há um tom exatamente realista, como se costuma ver com frequência no cinema. "O elenco pôde atuar de um modo livre, com improvisos, como acontece no teatro", afirma.

Embora surjam momentos divertidos ao longo do filme, o diretor procurou evitar que "Horácio" ganhasse um ritmo de chanchada. Buscou, na verdade, a tragicomédia, ao estilo dos irmãos Coen, de filmes como "Fargo" (1996) e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007).

As reações inusitadas dos personagens servem de contraponto constante, que impede o filme de ganhar ares sombrios ou talvez excessivamente humorísticos.

Para o contrabandista gay vivido por Zé Celso, uma inspiração foi Norma Desmond, interpretada por Gloria Swanson em "Crepúsculo dos Deuses" (1950). No filme de Billy Wilder, Desmond é uma estrela do cinema em declínio.

Mas o Horácio de Zé Celso vai além desse ar decadente de Desmond. Une ainda impetuosidade e irreverência.

As cenas dele com Petula (Maria Luisa) estão entre os melhores momentos do filme. Mangin, aliás, se surpreendeu com a rapidez com que os atores construíram uma estranha relação de pai e filha. Havia pouco tempo para a preparação —o filme foi rodado em apenas 20 dias, ao custo de R$ 600 mil.

Nada paga o preço, porém, de ver Zé Celso como uma diabólica femme fatale.

Horácio

  • Quando Estreia nesta quinta (11)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Zé Celso Martinez Corrêa, Maria Luisa Mendonça, Marcelo Drummond
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Mathias Mangin
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