O festival Líricas Paulistanas começa nesta quarta (22), com cinco dias de programação para resgatar a efervescência musical na cena de São Paulo no início dos anos 1980. A hoje chamada vanguarda paulista, conduzida por Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e os grupos Premê e Rumo, fez uma crônica sonora da cidade.
O evento comemora os 40 anos do Teatro Lira Paulistana, um espaço subterrâneo em Pinheiros que abrigava esse jorro de música moderna. Até domingo (26), a festa se espalha por quatro locais próximos à praça Benedito Calixto, onde ficava o Lira.
Shows, debates, performances e exibições de filmes estão programados para o Centro Cultural B_arco, o Secretinho, a Casa Natura Musical e o Estrella Galicia Estação Rio Verde.
Entre os shows, uma apresentação das Orquídeas do Brasil, com mulheres que acompanharam Itamar Assumpção na trilogia de discos “Bicho de 7 Cabeças”, em 1993.
A banda que sobe ao palco da Casa Natura na noite de quinta (23) tem a mesma formação que gravou com Itamar: Adriana Sanchez (teclados e voz), Clara Bastos (baixo), Georgia Branco (guitarra), Lelena Anhaia (baixo), Miriam Maria (voz), Nina Blauth (bateria e voz), Simone Julian (sopros e voz), Simone Sou (bateria) e Tata Fernandes (violão e voz). Participará do show a cantora Anelis Assumpção, filha de Itamar.
“Era uma fase em que ele queria juntar a personalidade contestadora, às vezes áspera, com uma doçura feminina, mas ainda com atitude, com posicionamentos claros”, conta Adriana Sanchez. Para ela, Itamar sempre se cercou de mulheres.
“Ele era pai de menina, tinha um lado feminino forte. Havia um universo de mulheres ao redor, as parcerias com Alice Ruiz e Alzira E, as ótimas vocalistas que trabalharam com ele, como Vânia Bastos e Suzana Salles, de características fortes.”
As Orquídeas carregam o legado de Itamar. Depois da morte do artista em 2003, aos 53 anos, elas se dispersaram, mas mantiveram a amizade e colaborações. Em 2010, se reuniram para show de lançamento de “Caixa Preta”, box com a obra fonográfica do cantor, e seguem juntas.
“O Itamar nos uniu, e no final da carreira quis retomar isso”, conta a baterista Simone Sou. “Ele queria regravar seu primeiro disco, ‘Beleléu, Leléu, Eu’, de 1980, com as Orquídeas, mas não deu tempo.”
“Estamos com força”, diz Adriana. “Queremos fazer virar um projeto de CD que tínhamos com o Itamar, de parcerias dele com Alice Ruiz. A gente tem um caminho da sonoridade, sabemos o que ele gostava de ouvir e também o que ele não gostava.
Para Simone Sou, isso vem da intensidade das gravações de “Bicho de 7 Cabeças”. “Foram três meses convivendo no estúdio. Depois ficamos um mês em cartaz com show em teatro. Entramos de cabeça, a gente era nova e queria aprender, todo mundo com vinte e poucos anos.”
Adriana diz que devem tocar no Líricas “Bicho de 7 Cabeças” e algumas outras coisas. “Sei dos Caminhos” já é um hit nos shows delas e nunca foi registrada pelas Orquídeas em disco.
Simone diz que todas adoram outra que não chegaram a gravar, “Liguei pro Céu”. Ela canta os versos que mostram bem a verve de Itamar: “Eu ontem tive a impressão que Deus quis falar comigo/ Eu não lhe dei ouvidos/ Quem sou eu para falar com Deus/ Ele que cuide de seus assuntos que eu cuido dos meus”.
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