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Em 'Maternidade', Sheila Heti analisa causas da pressão para ser mãe

Autora canadense é uma das convidadas da Flip deste ano

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A canadense Sheila Heti, autora de "Maternidade" e convidada da Flip 2019
A canadense Sheila Heti, autora de "Maternidade" e convidada da Flip 2019 - Divulgação

Maternidade

  • Preço R$ 59,90 (312 págs.)
  • Autoria Sheila Heti
  • Editora Companhia das Letras
  • Tradução Julia Debasse

Identificar-se pessoalmente com o universo de um livro nunca foi imprescindível ao sucesso de um autor. Gabriel García Márquez, por exemplo, não precisou de uma árvore genealógica quilométrica para criar “Cem Anos de Solidão” nem J.K. Rowling aprendeu bruxaria antes de escrever “Harry Potter”. Ainda assim, vez ou outra alguém empresta de maneira impecável sua biografia ao um enredo. Surge, assim, uma obra-prima.

“Maternidade”, de Sheila Heti, tem entre seus muitos méritos o fato de que protagonista e autora compartilham a mesma idade e questionamentos sobre a vida. Parece óbvio, com isso, se tratar de uma autobiografia, mas o livro é uma mistura de ficção com “ensaio filosófico”, conforme define a editora. 

Repouse na prateleira que for, a obra é, sem dúvida, uma das melhores abordagens já feitas sobre um tema importante e ainda polêmico para as mulheres: até que ponto ter ou não filhos pode ser determinante para a nossa felicidade? A protagonista, uma escritora, apresenta logo no início da trama este que considera ser “o maior de todos” os seus segredos. Procriar ou não procriar, eis a questão.

Na balança, a autora-personagem contrapõe os momentos de felicidade que um bebê poderia proporcionar aos problemas que esta opção talvez lhe trouxesse, como, por exemplo, não poder seguir com sua dedicação integral à literatura, e os riscos aos quais seu relacionamento com o namorado Miles estaria exposto diante da existência de um herdeiro em comum.

Em “Maternidade”, Heti, que vem ao Brasil em julho para a Flip (Festa Literária de Paraty), avalia possíveis raízes da pressão universal para parir descendentes, especialmente quando, a exemplo da protagonista, se chega próximo à virada dos 40 anos. “Uma mulher precisa ter filhos porque ela precisa estar ocupada”, cogita. “Há algo de ameaçador em uma mulher que não está ocupada com os filhos. (...) Que tipo de problema ela vai arrumar?”

Um dos truques mais divertidos da obra está na interação constante que a protagonista estabelece com três moedas de I Ching, tradicional sistema de adivinhação chinês. A personagem apresenta ao oráculo questões profundas —“Minha insegurança destruirá meu relacionamento?” ou “Se eu tiver um filho estarei plenamente realizada?”— e outras nem tão complexas assim, como quando quer saber se chegou a hora de adotar um amuleto de proteção.

As moedas respondem apenas com um “sim” ou “não”, criando sequências hilárias de diálogos surreais que ainda servem com perfeição à construção do enredo. Sem papas na língua, trabalham quase como um “deus ex-machina”, mas articulado de maneira perspicaz a ponto de gerar uma das melhores passagens do livro, quando a personagem, conformada, aceita a necessidade do amuleto, e escolhe para o posto uma grotesca e ordinária faca de cozinha.

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