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Gangue que rouba HQs de Tintim aterroriza livreiros colombianos

Com casos de 26 livros furtados de uma vez, profissionais suspeitam do envolvimento de sebos

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Cecilia Arbolave João Varella
Bogotá

A proprietária da livraria Babel, Maria Osório, de Bogotá, ficou encafifada quando não encontrou os livros de Tintim na prateleira em que estavam. Perguntou aos oito funcionários de seu espaço, que também funciona como editora, distribuidora e biblioteca, se alguém havia mudado de lugar os quadrinhos do belga Hergé. Não era o caso.

A Babel fora vítima da chamada Gangue dos Tintim (Banda de los Tintines, no espanhol), criminosos que atormentam livrarias da capital colombiana há cerca de dois anos. O prejuízo foi de 20 livros em uma tacada. Se servir de algum consolo, foi menos do que os 26 furtados em uma única pilhagem à livraria Wilborada 1047.

 

Esses roubos são uma pedra no sapato da nova geração de livrarias de rua da Colômbia —nesta década, diversas surgiram pela cidade, como a Mr. Fox, com ambientação que lembra o filme “O Fantástico Senhor Raposo”, e a Nada, dedicada a publicações de artista e objetos gráficos. 

Como os quadrinhos de Tintim são obras de grande formato, de aproximadamente 30 por 20 centímetros, os livreiros ficam espantados com a capacidade dos criminosos de agir tão rapidamente e escapar há tanto tempo. Especula-se que os ladrões usem bolsas ou mochilas que burlam o sistema de alarmes. 

Há três meses, Osório, também fundadora da Associação Colombiana de Livreiros Independentes, suspeita ter visto como a gangue atua.

“Eles chegam em três, bem na hora em que alguém está entrando na livraria, para parecer que estão juntos, e usam bonés para esconder o rosto das câmeras de segurança. Espalham-se e pegam os livros rapidamente”, diz ela, que naquele dia ficou com o olhar fixado no grupo para inibir um possível furto.

Para Edgar Blanco, editor da Animal Extinto e ex-livreiro que também foi vítima da gangue, Tintim é escolhido por ser fácil de revender. Existe a suspeita de que os receptadores sejam sebos do centro da cidade ou que os roubos atendam demandas de escolas e bibliotecas. 

A segurança é uma preocupação das livrarias colombianas. A reportagem visitou sete livrarias de rua e em cinco havia controle de entrada. Era necessário tocar a campainha para que a porta fosse destrancada. “Furto de livros é uma espécie de esporte por aqui”, afirma Osório. Os livreiros costumam compartilhar por meio de um grupo de WhatsApp fotos de suspeitos. 

Na livraria Casa Tomada, no bairro Teusaquillo, a proprietária Ana María Aragón combinou uma senha com os funcionários: sempre que um potencial ladrão entra na livraria ela começa a perguntar a todos pelo livro “El Manual de la Bruja”, de Malcom Bird. É o sinal para que os funcionários fiquem atentos. A tática deu certo, a Casa Tomada nunca foi vítima da Gangue dos Tintim. Por outro lado, livros de muita procura, como os de Gabriel García Márquez, Roberto Bolaño e Julio Cortázar ficam atrás do caixa, para dificultar os saques.

Os roubos de livros acontecem também em feiras, principalmente na Filbo (Feira Internacional do Livro de Bogotá), que se encerra nesta segunda (6). No ano passado, 575 mil pessoas visitaram o evento, e nesta edição a expectativa era de um público ainda maior. 

No estande do Brasil, a livreira Laura Santos estima que ao menos dez obras tenham sido furtadas —os números reais só serão conhecidos depois de um inventário. Um dos casos aconteceu durante uma roda de conversa entre os embaixadores do Brasil e de Portugal no espaço.

O embaixador do Brasil, Julio Bitelli, presenteou o adido cultural do país em Bogotá, Tiago Wolff Beckert, com a obra “O Retorno”, de Dulce Maria Cardoso. O livro foi deixado em exposição em um banco ao lado dos diplomatas no início da conversa. No final, não estava mais lá. 

A Gangue dos Tintim parece ter visitado a Filbo. No segundo dia da feira, em 26 de abril, os seguranças detiveram uma suspeita de furto. A foto dela circulou no chat dos livreiros e alguns confirmaram se tratar de uma das afanadoras de Tintim.

Dessa vez, ela foi pega tentando levar outro tipo de livro, três exemplares de uma nova edição de luxo de “Cem Anos de Solidão”, do prêmio Nobel colombiano Gabriel García Márquez. Cada exemplar tem preço de capa de 99 mil pesos colombianos (cerca de R$ 120). Segundo a central de segurança da Corferias, espaço onde acontece a FILBo, a suspeita foi encaminhada a uma delegacia.

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