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Isabelle Huppert vive psicopata que busca amigos no thriller 'Obsessão'

Longa de suspense marca volta ao cinema do diretor Neil Jordan, de 'Entrevista com o Vampiro'

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São Paulo

Há algo de desconcertante, de petrificante, no olhar de gelo da atriz francesa Isabelle Huppert. O filme “Obsessão”, do irlandês Neil Jordan, se esbalda nessa característica ao escalar a intérprete para o papel de uma insuspeita psicopata que fisga vítimas no metrô de Nova York.

Frances, papel de Chloë Grace Moretz, é a mais recente de suas presas. Recém-mudada para Manhattan, e ainda enlutada pela perda da mãe, a moça topa com uma bolsa perdida num vagão. Ela logo descobre que a dona do objeto é Greta (Huppert), uma viúva solitária que mora no Brooklyn e se mostra extremamente grata por recuperar o item.

E o que começa com um chazinho de agradecimento, servido em meio a queixas de solidão por parte da dona da bolsa e algum compungimento por parte da jovem que a recuperou, logo descamba para uma insistente aproximação. Tão insistente que quando Frances começa a repelir Greta, passa a ser perseguida na rua e ameaçada por meio de mensagens no celular.

“Por alguma razão, compreendo o fato de alguém estar tão desesperado que exige dos outros que cumpram suas promessas de amizade”, afirma o diretor. “É algo intrigante e meio estranho isso de uma afeição ir se tornando uma tensão. É quase como um conto de fadas dos irmãos Grimm ambientado no mundo urbano e contemporâneo.”

Tem mesmo uma cara fabular o thriller dirigido por Jordan, que estreia em 13 de junho. A ressentida Greta, que pune Frances porque ela não cumpriu o pacto de se tornar sua amiga, soa como uma bruxa má com sanha justiceira.

“Se a antagonista fosse um homem, então a história seria outra, carregada de uma obsessão romântica ou sexual”, diz o cineasta. “Mas tudo o que ela quer é ter amigos. Como ela é mulher, aquilo tudo fica mais crível, mas fica mais perturbador também.”

O papel dos gêneros nunca escapou mesmo aos olhos de Jordan, que ergueu sua carreira com obras que turvam as fronteiras entre o masculino e o feminino, caso de “Traídos pelo Desejo” (1992) e “Entrevista com o Vampiro” (1994).

Por sinal, vêm dessa mesma época —dos anos 1980 e 1990, que marcaram o auge da carreira do diretor— outras maníacas do cinema movidas pela mesma fissura de Greta. 

Por exemplo, as personagens de “Atração Fatal”, “Mulher Solteira Procura”, “A Mão que Balança o Berço” e “Louca Obsessão” —uma galeria de psicopatas que têm mais a ver com fantasias de diretores homens do que com questões do universo das mulheres.

O diretor irlandês, entretanto, conta que inspiração maior foi “Repulsa ao Sexo” (1965), de Roman Polanski, suspense com tom gótico que tem Catherine Deneuve no papel de uma mulher que sucumbe diante de suas próprias neuras.

Após hiato de sete anos sem dirigir filmes por causa do trabalho na série “Os Borgias”, o cineasta hoje se vê lançando um thriller de horror que destoa do panorama do gênero, consagrado por realizadores independentes como Jordan Peele (“Corra!”), John Krasinski (“Um Lugar Silencioso”) e Ari Aster (“Hereditário”).

“É um ótimo momento para o gênero, mas todos esses filmes se apoiam muito no sobrenatural para embutir medo”, diz. “E eu gosto do absurdo no cotidiano, de quando o ordinário vira extraordinário.”

Obsessão (Greta)

  • Quando Estreia nesta quinta (9)
  • Elenco Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe
  • Direção Neil Jordan
Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto publicou a data errada para a estreia de "Obsessão", informada pela assessoria da distribuidora. A informação foi corrigida. 

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