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L'Ordine Nuovo, jornal de Antonio Gramsci, nascia um século atrás

Publicação lançada no Primeiro de Maio de 1919 tentou criar elos entre trabalhadores e intelectuais

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No dia 1º de maio de 1919, na cidade de Turim, norte da Itália, aparecia o número inaugural do semanário L'Ordine Nuovo, com Antonio Gramsci como secretário de redação.

A data escolhida para apresentação do novo órgão de imprensa não era por nada casual. De fato, desde 1891 essa data ficara marcada como dia de luta pela emancipação do trabalho frente à exploração do capital e como lembrança da execução de grevistas nos Estados Unidos, em 1887.

Parecia então que a hora da emancipação havia chegado. A revolução iniciada na Rússia em 1917 e que elevara ao poder os conselhos operários (sovietes) e os bolcheviques se espalhava pela Europa oriental, até com a constituição do poder dos conselhos operários na Hungria.

O Primeiro de Maio de 1919 presenciou grandes manifestações da classe operária não só na Europa, mas em todo o mundo, incluindo o Brasil.

Nenhuma data poderia ser mais apropriada para o lançamento de uma publicação que trazia no subtítulo a identificação de "resenha semanal de cultura socialista". A intenção de seus quatro jovens fundadores, ex-estudantes da Universidade de Turim, era exatamente a difusão da cultura socialista entre trabalhadores ou qualquer profissional.

O pensador italiano Antonio Gramsci - Divulgação

A iniciativa de Antonio Gramsci, Palmiro Togliatti, Angelo Tasca e Umberto Terracini publicava informações sobre a história e a tradição de luta da classe operária, problemas que diziam respeito aos trabalhadores, como a questão da jornada de trabalho, do trabalho infantil e feminino, a questão do direito ao estudo e à cultura.

As relações com movimentos culturais na França eram próximos, como com Romain Rolland e Henri Barbusse.

Mas muito ainda se falava da Revolução Russa. Na Itália, nas fábricas de Turim, a movimentação operária era intensa, tanto a convencer os jovens intelectuais do L'Ordine Nuovo, mesmo com a discordância de Tasca, que pensava que a publicação devesse se transformar no porta-voz, no educador, no organizador dos conselhos de fábrica.

Essas organizações de trabalhadores surgidas em 1919 eram a expressão italiana da experiência dos conselhos operários surgida na Rússia e disseminada por grande parte da Europa, ainda que de maneiras diferentes.

Na experiência italiana, a participação dos operários se destacou na elaboração do L'Ordine Nuovo. Eles expressavam suas opiniões políticas, mas também seu saber sobre o processo produtivo. Surgia uma relação de educação recíproca entre operários e intelectuais, que se manifestou também na escola criada pelo grupo do L'Ordine Nuovo.

Notável foi também a experiência de ocupação das fábricas. Os operários assumiram o comando desses espaços, continuaram a produção, aumentaram a produtividade e fizeram toda a manutenção das máquinas.

A reflexão de Gramsci, em meio à luta política, se encaminhou para a concepção na qual os conselhos de fábrica viriam a ser o fundamento da democracia operária, de um Estado operário, que desenvolvesse a indústria e garantisse a elevação intelectual e cultural das massas de trabalhadores. Essa experiência histórica e esse projeto político pedagógico foram derrotados no fim de 1920, mas marcaram toda a trajetória posterior da obra de Gramsci.

Marcos Del Roio

Professor de ciência política da Universidade Estadual Paulista

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