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'Mormaço' usa imagens reais para exibir mudanças no Rio antes da Olimpíada

Longa de Marina Meliande mistura ficção e realidade para falar da especulação imobiliária na cidade

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Fernando Silva
São Paulo

Quando começou a produzir seu primeiro longa-metragem solo, Marina Meliande, 38, queria falar das transformações pelas quais o Rio de Janeiro passava antes da Olimpíada a partir de uma comunidade fictícia. A Vila Autódromo (zona oeste da cidade) mudou os planos.

"Na pesquisa, fui até lá e conheci os moradores, que estavam em processo de resistência", lembra a diretora. Da visita em 2016, nasceu "Mormaço", drama com toques de realismo fantástico que entra em cartaz nesta quinta (9).

O ambiente era tumultuado. A Prefeitura do Rio de Janeiro tentava remover quem vivia na área vizinha ao Parque Olímpico às vésperas dos Jogos. "Era um espaço destruído. Tinham poucas casas que resistiam no meio de escombros", conta a diretora.

Filmada entre março e abril daquele ano, a produção mostra cenas reais de demolições, momentos de tensão com policiais, revolta dos moradores.

Alguns fazem parte do elenco. Com experiência no teatro, Sandra Maria, 51, foi convidada para fazer a líder comunitária Domingas, papel que desempenha de fato na Vila Autódromo. Ela segue morando no local e vive em uma das 20 casas construídas pela prefeitura para famílias que se recusaram a sair de lá.

Na trama, ela tem na defensora pública Ana (Marina Provenzzano) o seu braço direito. Protagonista do filme, a personagem também passa por um processo de desapropriação. O prédio onde mora vai ficando vazio enquanto os apartamentos são avaliados por uma construtora que deseja transformar o lugar em um hotel.

No meio disso, a pele da advogada começa a apresentar manchas roxas. "Essa doença é o corpo reagindo antes que a gente se dê conta de como reagir", explica a diretora.

É como se "Mormaço" se alimentasse do horror: não à toa, Marina cita "A Mosca" (1986), de David Cronenberg, como referência, e "Pet Sematary", dos Ramones, trilha sonora de "Cemitério Maldito" (1989), também toca no filme. Sem contar o terror das cenas reais da Vila Autódromo.

"Ao invés de ser só uma situação em que está todo mundo ali imaginando como seria, a casa da [moradora Maria da] Penha estava sendo demolida mesmo", relembra a atriz Marina Provenzzano.

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