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Tarantino faz Los Angeles voltar 50 anos no tempo e transforma ruas em set

Diretor filmou 'Era Uma Vez em Hollywood', que está na disputa pela Palma de Ouro

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Ruas de Los Angeles alteradas para gravação

Rua de Los Angeles alterada para a filmagem de ‘Era Uma Vez em Hollywood’ Divulgação

Los Angeles

Todo mundo que saía da estação de metrô na esquina da Hollywood Boulevard com a Vine Street, em Los Angeles, levava um baita susto. A região, uma mais visitadas por turistas em Los Angeles, havia voltado meio século no tempo.

O histórico Pantages Theatre, primeiro prédio visto por quem emergia do subsolo, havia voltado a exibir filmes e ostentava no letreiro "3 in the Attic", de Richard Wilson. Nos postes, cartazes psicodélicos anunciavam os shows de The Grateful Dead, The Doors e Chuck Berry.

Garotas de vestidos curtinhos em tons pastéis circulavam pelo quarteirão do Vine Theatre, onde em breve começaria uma sessão de "Romeu & Julieta", de Franco Zeffirelli. Fechado em 2007, o Vine resplandecia sob uma nova e brilhante marquise.

Cadillacs, Thunderbirds e Fuscas se enfileiravam na saída do estacionamento do prédio da Igreja da Cientologia, que voltara a ser uma agência pomposa do Bank of America naquele 23 de outubro de 2018.

Quentin Tarantino transformou uma das áreas mais caóticas da capital do cinema para rodar seu novo filme, "Era Uma Vez em Hollywood", uma superprodução de US$ 95 milhões (cerca de R$ 353 milhões) ambientada inteiramente em agosto de 1969.

A Folha foi o único veículo do país a acompanhar as filmagens do longa, previsto para estrear no Brasil em 15 de agosto. A première será em 21 de maio, no Festival de Cannes, onde ele compete pela Palma de Ouro.

"É uma carta de amor ao cinema, sobre o período de transição da inocente e antiga Hollywood para uma nova e mais sombria. É um filme muito pessoal para Quentin, que cresceu em Los Angeles e se lembra de ir ver 'Butch Cassidy' com os pais no Chinese Theatre, a poucos metros daqui", conta a produtora Shannon McIntosh, que trabalha com Tarantino há 25 anos, desde "Pulp Fiction". "É uma celebração de tudo o que ele ama no cinema e na televisão."

Pouco se sabe sobre o enredo. Quando "Era Uma Vez em Hollywood" foi anunciado, em 2017, a imprensa especializada começou a especular que orbitaria em torno da gangue de assassinos de Charles Manson, que aterrorizou Los Angeles no fim da década de 1960.

"Não sei de onde vieram esses rumores, mas só quem não conhece Tarantino acreditaria que ele faria um filme sobre um assunto tão batido", rebate a produtora.

De fato, a gangue está no filme, mas não no eixo central. A confusão talvez tenha ocorrido porque uma das principais personagens do longa é Sharon Tate, morta em sua casa por membros da gangue de Manson no verão de 1969. A atriz estava grávida de oito meses do marido, o diretor polonês Roman Polanski.

No papel de Tate, a australiana Margot Robbie foi a primeira a dizer sim para o trabalho. Depois, chegariam Brad Pitt e Leonardo DiCaprio para formar a tríade principal.

DiCaprio vive o fictício Rick Dalton, vizinho de Tate e astro das matinês hollywoodianas. O galã entra em decadência com a mudança de tom na indústria cinematográfica. Para recuperar a fama, busca ajuda de seu dublê e assistente, Cliff Booth, interpretado por Brad Pitt. "É divertido ter Brad e Leo, que nunca haviam contracenado. A relação entre seus personagens é de amizade."

Essa viagem para o fim da inocência de Hollywood, iniciada pelo Oscar vencido por "No Calor da Noite", de Norman Jewison —como Tarantino gosta de estabelecer—, ainda tem um elenco barra-pesada. Al Pacino faz Marvin Schwartz, o agente de Dalton; Damian Lewis interpreta Steve McQueen; Emile Hirsch assume o papel do cabeleireiro Jay Sebring e Luke Perry, morto há dois meses, faz sua última aparição no cinema como o ator Wayne Maunder.

As atrizes Dakota Fanning e Lena Dunham, da série "Girls", interpretam mulheres da gangue de Charles Manson (Damon Herriman).

Apesar de a trama não ser sobre o assassino, ela vai mostrar as intersecções entre a seita e o cinema. Um exemplo é o rancho Spahn, uma antiga locação de faroestes também utilizada pela seita, com a permissão do velho (e cego) fazendeiro George Spahn (Bruce Dern, em papel que seria de Burt Reynolds, morto no ano passado).

Um dos filmes mais ambiciosos de Tarantino, "Era Uma Vez em Hollywood" começou a ser escrito há seis anos, em formato de livro. O cineasta passou um ano reescrevendo os dois primeiros capítulos das aventuras de Rick e Cliff, mas desistiu do formato. Agora, o cineasta cogita migrar para o teatro após seu décimo filme —"Era Uma Vez..." é o nono.

Ele passou mais um ano procurando um cenário para inserir a dupla que, embora cercada de personagem que existiam, é fictícia. Finalmente veio a ideia da transição em Hollywood, bairro onde mora, e seus três níveis de estratos sociais, representados por Sharon Tate (classe alta), Rick Dalton (média) e Cliff Booth (baixa).

Como o cenário do set antecipa, é um filme com diversas cenas de carros, inspiradas em "Loucuras de Verão" (1973), e passado em dois dias nas vidas dos personagens, embora haja vários flashbacks. "É o filme mais próximo de 'Pulp Fiction' que ele já fez", diz a produtora, em uma entrevista improvisada dentro do strip club Déjà Vu, onde celebridades do cinema pornô como Christy Mack fazem shows regularmente.

Do lado de fora, Tarantino acena para os fãs e dirige uma cena com Pitt guiando um carro conversível pela área. Logo depois, DiCaprio se junta para uma sequência na condução de um Cadillac do fim dos anos 1950.

Não há sinais de fundos verdes —aqueles utilizados para facilitar a inserção de efeitos especiais na pós-produção. Tarantino não curte efeitos especiais, segundo McIntosh. "Ele gosta de ver sua mágica tomar forma diante das câmeras. Por isso, reconstruímos Los Angeles."

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