Woody Allen, acusado de assédio, tem livro de memórias ignorado por editoras

Cineasta tentou propor um livro de memórias a várias editoras americanas

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O cineasta americano Woody Allen
O cineasta americano Woody Allen - Valery Hache/AFP
Cara Buckley Alexandra Alter
Nova York | The New York Times

Woody Allen tem sido tratado como pária por Hollywood. Celebridades que antes disputavam papéis em seus filmes agora dizem se arrepender de ter trabalhado com ele. A Amazon cancelou um contrato para a distribuição de seus filmes. Agora Allen parece estar perdendo estatura em outro quadrante do setor de entretenimento: o editorial.

Isso porque, nos últimos 12 meses, ele tenta discretamente vender um volume de memórias, de acordo com executivos de quatro grandes editoras, mas suas propostas foram recebidas com indiferença ou rejeitadas imediatamente. 

Antes que o movimento #MeToo ganhasse força, as memórias de Allen provavelmente teriam gerado um leilão e lhe valido um adiantamento de centenas de milhares ou alguns milhões de dólares. 

Mas, com sua carreira descarrilada pela retomada das acusações de que molestou a filha Dylan Farrow, quase três décadas atrás —acusações que ele nega—, a perspectiva de publicar suas memórias parece pouco atraente.

Executivos de diversas editoras disseram que foram procurados, no final do ano passado, pelo agente de Allen a fim de oferecer o livro, mas ninguém se interessou devido a propaganda negativa que isto pode gerar. 

Alguns editores se recusaram a ler o material. Os executivos disseram que até onde sabem nenhum editor havia oferecido um contrato a Allen; e se alguém o fez, o assunto teria sido mantido em segredo e o manuscrito não parece ter circulado amplamente. 

Executivos do mercado editorial usaram o termo “tóxico” para descrever o desafio de trabalhar com Allen atualmente, apontando que embora ele continue uma figura cultural significativa, o risco comercial de lançar suas memórias é grande demais.

A escritora Daphne Merkin, que conhece Allen há muito tempo, disse que o cineasta contou sobre o projeto de suas memórias. Porém, ela não  leu o manuscrito e não sabe as acusações são mencionadas.

“Ele não é o tipo de pessoa que vai lutar para colocar as coisas em pratos limpos, mas presumivelmente as memórias contam seu lado da história”, disse Merkin. 

Allen também travou uma batalha judicial com a Amazon. A empresa cancelou um acordo de distribuição de quatro filmes do cineasta, entre eles “A Rainy Day in New York”, que foi engavetado; em resposta Allen entrou com um processo de US$ 68 milhões (R$ 267 milhões) contra a empresa. 

Em documentos do processo, a Amazon menciona comentários insensíveis de Allen sobre o #MeToo e declarações de atores que se dizem arrependidos de trabalhar com ele como prova de que seria impossível lucrar com o trabalho.

Dylan Farrow, filha adotiva de Allen, e a antiga namorada do cineasta, Mia Farrow, o acusaram de tocá-la indevidamente em 1992, quando a menina tinha sete anos. Investigadores não encontraram provas de abuso sexual.

A família continua dividida —Mia Farrow e Ronan Farrow, irmão de Dylan, a apoiam, mas outro de seus irmãos, Moses Farrow, defende o pai.

Dylan Farrow reiterou suas acusações em artigos de opinião publicados em 2014 e 2017, e em uma entrevista em 2018. 

Depois disso, uma adaptação teatral de “Tiros Na Broadway” foi cancelada, e atores como Greta Gerwig, Ellen Page, Evan Rachel Wood, Michael Caine e Colin Firth expressaram remorso por terem trabalhado com ele. Diversos protagonistas de “A Rainy Day in New York”, que foi engavetado, como Timothée Chalamet, disseram que doariam os cachês a organizações de caridade.

Para alguns, Allen continua a ser celebrado. A atriz Anjelica Huston, que já fez dois filmes dele, disse ao site Vulture que voltaria a trabalhar com o diretor “sem hesitar”. O ator espanhol Javier Bardem também lamentou o “linchamento público”.  A produtora MediaPro continua a colaborar com Allen em seu mais recente filme. 

Uma porta-voz da MediaPro afirmou que o projeto deve ser filmado em julho e o elenco está sendo montado.

Allen, que é um clarinetista talentoso, ainda conta com os fãs de sua música. Em junho, ele fará uma turnê por oito cidades europeias com a Eddy Davis New Orleans Jazz Band, depois de de sua temporada no Carlyle Hotel, de Nova York, na primavera.

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