Diante da crise do mercado editorial – que encolheu 4,5% no ano passado –, as pequenas editoras sobrevivem à sua maneira. Com tiragens pequenas, autores pouco conhecidos (se comparados aos best-sellers das grandes casas editoriais) e a ideia de curadoria para ocupação de nichos, elas atuam cada vez mais com abordagens alternativas e ainda contribuem com a diversidade do mercado de livros.
É o caso da Macondo, editora mineira que completa cinco anos em 2019. A casa lança, neste mês, A Colecção, com cinco livros de poesia portuguesa contemporânea que serão disponibilizados ao público numa espécie de ‘clube de assinatura’. Entre junho e setembro, os assinantes recebem em casa, periodicamente, as obras que compõem o conjunto.
De acordo o editor responsável, Otávio Campos (27), a proposta é trazer ao público um breve recorte da poesia que vem sendo produzida em Portugal. Mas não só isso. Para ele, há uma distância a ser superada entre o leitor brasileiro e a língua portuguesa falada fora do país.
Nesse sentido, A Colecção surge também numa tentativa de aproximação cultural entre leitores brasileiros e poetas lusitanos: “É uma espécie de contaminação mútua da língua”, diz – ‘contaminação’ esta que vem à tona desde a grafia do título.
“Conhecemos a maioria das palavras (usadas por esses poetas), senão todas, mas a forma como se arranjam no verso e as imagens que constroem é o que causa o estranhamento”, explica Otávio. “É o que espero da poesia, essa capacidade de afetar e transformar.”
Frente à iniciativa da Macondo, a edição de literatura portuguesa no Brasil ainda é escassa, principalmente no que se refere à poesia. Além disso, para Otávio, opta-se normalmente pela publicação de nomes mais conhecidos. A Chão da Feira e a Moinhos, por exemplo, editoras também pequenas, trouxeram ao país poetas já bastante conhecidos, como Daniel Faria e Adília Lopes.
Do mesmo modo, antologias recentes sinalizam a opção de casas mais tradicionais por autores consagrados pela crítica. É o caso de Manuel António Pina (com O coração pronto para o roubo, Editora 34) e Sophia de Mello Breyner Andresen (Coral e Outros Poemas, Companhia das Letras), ambos vencedores do Prêmio Camões e publicados no ano passado.
“Minimamente, suprimos uma demanda”, afirma Otávio. Junto a Fred Spada, os editores mantêm a atenção voltada ao que está sendo produzido agora. “Não pretendemos definir uma suposta geração (de poetas portugueses) – não vamos dizer, por exemplo, que a poesia de hoje é sisuda e hermética porque publicamos alguns poetas assim –, mas colocar em discussão esse cenário”.
Quanto à literatura de outros países de língua portuguesa, Otávio sinalizou a intenção da Macondo de publicar, no futuro, uma coleção de poesia moçambicana com autores que têm pouca ou nenhuma circulação no Brasil. O estudo conta com o apoio do poeta brasileiro Edimilson de Almeida Pereira e da suiça radicada no Brasil Prisca Augustoni, e ainda não lançamento previsto.
Participam d’A Colecção Cláudia R. Sampaio (com o livro Inteira Como um Coice do Universo), Miguel Cardoso (com Víveres), Tatiana Faia (Um Quarto em Atenas) – estes, inéditos no Brasil –, além de Manuel de Freitas (Ubi Sunt) e Mariano Alejandro Ribeiro (Antes da Iluminação), ambos com outras obras editadas no país.
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