Após dez anos, Luiz Ayrão lança inéditas ao lado de Zeca Pagodinho e outros

Compositor de "Nossa Canção" e "O Lencinho" supera estigma e ganha reconhecimento

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Rio de Janeiro

Aos 77 anos, Luiz Ayrão não para de fazer shows. Interpreta composições suas como “Nossa Canção”, sucesso de Roberto Carlos em 1966 e de Vanessa da Mata cinco décadas depois.

Ultimamente, tem aparecido com uma bengala. Ele esclarece que é resultado de uma cirurgia recente na coluna, mas que a vitalidade continua a mesma. Ou maior. Dez anos após “A Vida é uma Festa”, lança outro disco com inéditas, “Um Samba de Respeito”.

A rigor, não é um disco, um álbum ou um CD. As sete faixas estão nas plataformas digitais.

“Eu gravei há alguns anos uma releitura dos meus sucessos, mas não quis lançar, por causa da decadência do CD”, conta. “Agora eu pensei em pôr quatro músicas novas nas plataformas, mas o pessoal foi se entusiasmando, a [gravadora] Universal encampou o projeto, e virou algo um pouco maior.”

Parte do “pessoal” são os artistas que dividem as faixas com ele: Zeca Pagodinho, Zeca Baleiro, Alcione, Diogo Nogueira, Xande de Pilares, Monarco, Toninho Geraes, Péricles e Demônios da Garoa. Apenas “O Samba Merece Respeito” já tinha sido gravada, mas ganhou versos novos.

Das sete, uma é de Monarco e Ratinho, e as outras seis são assinadas por Ayrão. Mas o samba de breque “Tentação de Malandro”, do qual os dois Zecas participam, foi composto por um músico amador, Darcy Ayrão, pai do artista.

“Ele morreu com 40 anos. Eu decorei, nunca esqueci, cantava para as pessoas, elas gostavam, então resolvi gravar. Ficou com o meu nome para evitar a burocracia. E eu sou filho único”, diz o carioca radicado em São Paulo.

Ayrão herdou a paixão pela música, que cultivou na infância e na adolescência escutando a Rádio Nacional. “Eu ouvia de tudo. Meu caderno de composições tinha samba, bolero, baião...”

Mas não tinha rock nem baladas. Quando o jovem e ainda desconhecido Roberto Carlos, então morando no mesmo bairro (Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio), disse a Ayrão que sua gravadora queria transformá-lo num Elvis Presley brasileiro, o vizinho correu para satisfazer a demanda. O primeiro fruto, “Só por Amor”, foi gravado por Roberto em 1963.

“Eu vivia duro, com sapato furado”, recorda. “Quando fui receber os direitos autorais, era uma fortuna, 48 mil cruzeiros, o dobro do que eu ganhava como bancário. Minha mãe achou que eu tinha dado um desfalque no banco.”

Depois, o já Rei da Jovem Guarda lançou “Nossa Canção” e, em 1968, “Ciúme de Você”. Mas o samba era o amor maior de Ayrão. Foi no gênero que ele fez sucesso na década de 1970. Tocaram bastante nas rádios composições como “Porta Aberta”, “Bola Dividida” e “A Saudade que Ficou (O Lencinho)”.

Um crítico classificou o que faziam Ayrão, Benito Di Paula, Agepê e outros como “samba-joia” ou “sambão”. Seriam músicas mais fáceis de ser consumidas se comparadas a sambas tradicionais. O rótulo pegou e virou um estigma.

“Isso me prejudicou porque pessoas esclarecidas, passaram a achar que meus sambas eram de segunda classe. Eles são populares, mas não são popularescos. Não são feitos só para vender”, afirma.

Assim como acontece com Benito Di Paula, cujas músicas têm sido cantadas por artistas jovens ligados ao samba tradicional, Ayrão também vem tendo o seu valor reconhecido. No último dia 27, por exemplo, foi ovacionado no Samba do Trabalhador, uma das rodas mais tradicionais do Rio.

Um Samba de Respeito

  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Autor Luiz Ayrão
  • Gravadora Universal
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