Descrição de chapéu Cinema

CineOP homenageia Edgard Navarro, representante do cinema marginal

Em sua 14ª edição, evento em Ouro Preto estimula a preservação e a memória audiovisual

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São Paulo

Na 14ª CineOP as seções se chamam “Contemporânea”, “Preservação”, “Histórica”, “Educação”. Não é frequente, mas define bem a mostra dedicada ao audiovisual que começa nesta quarta (5) em Ouro Preto (MG) e prossegue até o dia 10.

Não poderia haver lugar melhor do que a histórica cidade para abrigar um encontro cujo centro são ideias como preservação e memória. Aspectos que a cada ano se tornam mais relevantes na seara do audiovisual. A cada ano, o material produzido cresce, e com isso torna-se mais complexa a situação dos acervos.

Descobertas acontecem em vários pontos do Brasil. Pioneiros insuspeitados aparecem. Pioneiros desconhecidos aparecem. As situações são, não raro, surrealistas, como é o caso do mineiro Aristides Junqueira.

Cena do filme 'Superoutro' (1989), que estará na abertura da mostra CineOP - Divulgação

Grande parte de seu trabalho se perdeu porque, depois de sua morte, em 1952, a viúva raspou os negativos dos filmes do marido para extrair deles o nitrato de prata: era o único valor que via naqueles rolos. Talvez valor pecuniário, sem dúvida. O valor de memória não entrou em seus cálculos.

Por sorte, Junqueira deixou com o filho o material de “Reminiscências” (filmado entre 1909 e 1920), e o filho teve o tino de guardar o filme na geladeira de sua casa (consta que na gaveta dos legumes) e mais tarde o repassou a Cosme Alves Neto, curador da Cinemateca do MAM. Essa parte de sua obra, com cenas familiares, hoje está preservada.

O caso, no entanto, serve para ilustrar a reduzida compreensão que se tem no Brasil sobre o valor das imagens. Em outros países, a história do século 20 já não se conta sem o auxílio das imagens em movimento.

No Brasil, pouco restou da produção passada. Se um filme como “Imagens do Estado Novo” (2016), de Eduardo Escorel, existe, é em grande parte graças ao famigerado D.I.P. (Departamento de Imprensa e Propaganda) da ditadura Vargas. Se Joel Pizzini pode fazer “Rio da Dúvida” (2018), é porque o Exército tratou de preservar as imagens das expedições do marechal Rondon aos territórios indígenas feitas pelo major Vaz.

É por girar em torno dessas questões que o CineOP não se confunde com os festivais de cinema habituais: em vez de estrelas, produtores, distribuidores, reúne mais professores universitários, pesquisadores, profissionais da preservação. E, claro, cineastas.

Como neste ano os curadores, Francis Vogner dos Reis e Lila Foster, privilegiaram a temática da produção regional, já que no momento as políticas de incentivo à produção de diversos estados criaram polos relevantes (Recife, Contagem, Brasília etc.). Ao mesmo tempo, com a expansão dos estudos de audiovisual em nível universitário as descobertas se intensificaram nos últimos anos, a ponto de a histórica denominação de “ciclos regionais” (para os filmes feitos em determinadas cidades no tempo do cinema mudo), recorte hoje já bastante contestado no meio.

Como o foco da 14ª CineOP é, justamente, a descentralização das operações referentes ao audiovisual, a homenagem do ano é a Edgard Navarro, um dos representantes da Bahia no ciclo dito do cinema marginal.

Seu filme “Superoutro” (1989) estará na abertura da mostra. Nos próximos dias outros de seus trabalhos serão mostrados, pois, embora o CineOP seja antes de tudo um local onde especialistas buscam formular políticas, a parte de exibição, de filmes —em especial restauros recentes— é igualmente importante.

Ao contrário de manifestações cada vez mais célebres que acontecem anualmente na Europa, como o Cinema Ritrovato, de Bolonha, ou as Jornadas do Cinema Mudo, de Pordenone, ambas na Itália, o CineOP ainda está longe de convencer investidores brasileiros (a começar pelo Estado), da necessidade de manter viva essa documentação essencial para a compreensão do país desde o século passado. Mas não custa insistir —acredita o pessoal da Universo Produção, responsável pelo evento.

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