Descrição de chapéu Artes Cênicas

Elina Garanca, estrela da ópera, se apresenta no Brasil pela primeira vez

Alta, loira e de olhos azuis, mezzo-soprano da Letônia luta contra caráter geográfico e canta música 'quente' do sul

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São Paulo

Há um mês, os fãs paulistanos de ópera tomaram um susto. A mezzo-soprano letã Elina Garanca (pronuncia-se garantcha) teve de cancelar apresentações na Áustria. Motivo: uma costela quebrada, brincando em casa com as filhas pequenas.

Ela está, contudo, recuperada. Cantou na semana passada em Nova York e faz duas apresentações com a Orquestra Acadêmica do Mozarteum Brasileiro na Sala São Paulo, neste sábado (22) e na próxima segunda (24), sob regência do americano Constantine Orbelian.

Intensidade cênica, voz uniforme e flexível e uma musicalidade ágil, eclética e adaptada aos vários estilos que aborda vêm garantindo sua proeminência internacional desde que cantou Mozart no Festival de Salzburgo, em 2003. Casada com o regente britânico Karel Mark Chichon, que comanda a Filarmônica de Grã-Canária, mora em Málaga, na Espanha, e atendeu a este repórter falando um espanhol fluente e colorido por várias palavras e expressões italianas.

"Como nunca me ouviram ao vivo no Brasil, queria mostrar meu retrato mais completo, o repertório que faço há muitos anos, com muito êxito", explica, quanto à escolha do programa, que mistura itens do verismo italiano ("Cavalleria Rusticana", de Mascagni, e "Adriana Lecouvreur", de Cilea), o mais icônico repertório francês para seu registro vocal ("Sansão e Dalila", de Saint-Saëns, e "Carmen", de Bizet) e trechos de zarzuela, o teatro musical espanhol. "A zarzuela é muito importante na minha vida e influenciou minha relação com o papel de Carmen."

O recorte latino reflete seu mais recente álbum, "Sol y Vida", no qual, sob regência do marido, ela faz um repertório "crossover" que inclui, além de zarzuela, canções populares como "Gracias a la Vida", de Violeta Parra, e "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso.

"Não acredito muito nesse caráter geográfico —todo mundo do sul é quente, todos nós do norte somos frios", afirma. "Eu, sendo alta, loira e de olhos azuis, gosto de cantar essa música do sul. Sempre tive conexão com essa música, fazia sucesso como bis."

No repertório operístico, os dias de Mozart e das óperas do bel canto italiano parecem ter ficado para trás. Após a maternidade, a voz de Garanca mudou, e ela tem se direcionado para as áreas mais pesadas, como o verismo italiano —e Richard Wagner.

"Não basta decidir o repertório, o material que Deus nos deu precisa corresponder. Na verdade, entediei-me cantando sempre os mesmos papéis inúmeras vezes, como Charlotte (na ópera "Werther", de Massenet) e até Carmen", diz.

Ela conta que, no repertório mais leve, tinha de segurar não só a voz, mas o temperamento. E a interação cênica com os demais cantores era complexa, por uma questão física. "A maioria dos colegas com que eu cantava esse repertório —os tenores Lawrence Brownlee, Javier Camarena, Juan Diego Flórez— eram mais baixos do que eu, o que me parecia um pouco estranho", conta.

Para 2021, está marcado seu encontro com o universo wagneriano: o papel de Kundry, na ópera "Parsifal", em Viena. "É estupendo. Apenas há poucos anos posso dizer que entendo Wagner."

Interpretar o compositor constitui, para ela, uma espécie de fechamento de um ciclo. "É uma experiência ter começado no barroco e chegado a ele. Não são muitos cantores, inclusive do sexo masculino, que conseguem fazer esse círculo completo na ópera", diz, orgulhosa.

Outros planos incluem um disco de canções de Brahms e Schumann, bem como papéis do antípoda italiano de Wagner: Verdi, do qual ela canta Amneris (da ópera "Aida") em Paris, e Eboli (de "Don Carlos", em Berlim.

"Cantar Verdi muitas vezes depende da personalidade do cantor. Se você for muito tímido, retraído, ou não tiver o peso do corpo, não será um cantor verdiano", explica. "O maestro Riccardo Muti me disse que conhecer o estilo verdiano é mais importante do que ter uma voz grande e não saber o que fazer com ela."


Elina Garanca 

Sáb. (22) e seg. (24), às 21h, na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16). Ing.: R$ 420 a R$ 1.000 em mozarteum.org.br.

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