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Em 16 meses, Zendaya vai da fofura da Disney para as drogas de 'Euphoria'

Atriz interpreta a protagonista do novo drama da HBO, recheado de sexo e traficantes

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Phoebe Reilly
Beverly Hills, Califórnia | The New York Times

Faz apenas 16 meses que Zendaya se despediu da Disney Channel, mas sua nova série na HBO, “Euphoria”, deixa uma coisa muito clara: a parte de sua carreira na televisão que era aprovada por pais e mães já virou história antiga.

Na série, a atriz interpreta a estudante secundarista Rue, que depois de passar um período em clínica de reabilitação, mas sem conseguir se recuperar, parece estar interessada principalmente em se anestesiar com a ajuda de vodca e qualquer droga que estiver ao seu alcance.

Entre fases de inconsciência, ela narra uma realidade sombria, retratada de modo explícito, em que os traficantes locais mal chegaram à puberdade, o fentanil está em todo lugar e o sexo entre seus colegas não apenas é casual, como é documentado com frequência. “Estamos em 2019, nudes são a moeda do amor”, explica Rue no primeiro episódio.

Baseado na série israelense que tem o mesmo título, e com produção executiva de Drake, “Euphoria” é um drama teen, algo em que a HBO raramente se aventura. Sam Levinson (filho do cineasta Barry Levinson),  remeteu à sua própria adolescência turbulenta para narrar a história, que se inspira também em histórias contundentes anteriores sobre teens, como “Kids” e “Skins”, e ao mesmo tempo trata de realidades atuais como “revenge porn” e exercícios de treinamento para enfrentar atiradores armados.

“Foi um salto assustador”, comentou Zendaya. “Mas acho que já era hora de eu fazer isso.”

Ela acha pouco provável que o público de “Euphoria” coincida com os espectadores da Disney. “Duvido que minhas fãs de oito anos saibam da existência de ‘Euphoria’”, ela disse, sorrindo. “Se souberem, duvido que seus pais as deixem assistir.”

Nascida em Oakland, na Califórnia, de pais que eram professores primários, Zendaya Coleman fez seu primeiro trabalho para a Disney em 2010, aos 13 anos. Quando não estava fazendo o papel de uma aspirante a dançarina em “No Ritmo” ou, mais tarde, de um espiã em “Agente K.C.”, ela estava ocupada formando um currículo enxuto, mas interessante.

Em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (2017), seu papel aparentemente pequeno encarnando Michelle, uma colega sarcástica de Peter Parker, levou a um desenlace inesperado num terceiro ato em que ela é desmascarada como sendo a infame MJ. A atriz reacende a química com Tom Holland, que interpreta o protagonista, na sequência a ser lançada em breve “Homem-Aranha: Longe de Casa”. Além disso, ela foi uma trapezista ágil e exuberante no musical “O Rei do Show” (2017).

No ano passado, depois de encerrar seus oito anos na Disney Channel com o episódio final de “Agente K.C.”, pela primeira vez em quase uma década Zendaya se viu preocupada com qual seria seu próximo projeto. Foi quando ela leu o roteiro do piloto de “Euphoria”.

“Percebi na hora que, se não fizesse parte dessa série, ficaria infeliz”, ela conta.

Em Beverly Hills, Zendaya, 22, se acomoda no sofá com um salto-agulha de veludo bordô, ansiosa para conversar sobre por que quis o papel em "euphoria" e se ela vai conseguir fazer Rue abandonar seus hábitos mais vulgares em tempo para a divulgação de “Homem-Aranha”.

Confira trechos pinçados da conversa.

Zendaya posa para foto no Empire State, em Nova York
Zendaya posa para foto no Empire State, em Nova York - Lucas Jackson/Reuters

“Euphoria” atraiu você pelo fato de ser uma quebra tão grande em relação à Disney? Não houve plano estratégico. Depois de filmar “O Rei do Show” e “Homem-Aranha”, voltei para meu programa da Disney. Foi um pouco como ir à faculdade e ficar repetindo o mesmo ano sempre. Não que eu não apreciasse o fato de ter um emprego. Mas é como se eu acendesse uma luz e fizesse o show, depois desligasse e voltasse para casa. Eu queria mais que isso. Ao conversar com Sam e ficar sabendo que Rue é, na realidade, uma encarnação dele e de sua batalha contra a dependência química, a depressão e um monte de outras coisas que todo o mundo enfrenta, fez sentido o fato de eu me identificar com ela.

Você não usa drogas. O que você tem em comum com Rue? Ela é como uma versão de mim mesma com circunstâncias e escolhas de vida diferentes. Rue é uma pessoa boa, mas ela própria não sabe disso. Há algo nela de inocente, algo que a redime e que faz você perceber que ela é um ser humano em primeiro lugar, dependente química em segundo.

A série é intencionalmente provocante? Francamente, não a acho tão chocante assim. Eu meio que aceitei o fato de que ela será polarizadora, e isso me deu um pouco de calma. Quer as pessoas gostem, quer não, é real. Estou contando a história de alguém. Se não está acontecendo com você, isso não significa que não esteja acontecendo o tempo todo, todos os dias. É difícil para mim falar de dependência química porque isso é algo com que eu nunca tive contato direto. Mas eu tinha amigos que enfrentavam isso.

Você sentiu receio ao encarnar esse papel sombrio e às vezes explícito? Senti. É como ir do nada para o tudo, sem nenhum passo intermediário entre uma coisa e outra. É por isso que as pessoas acham um passo tão grande para mim representar essa personagem. Muita gente provavelmente pensa que eu não serei capaz, mas é porque não entendem realmente a minha personalidade. Sou uma garota da Disney. Há muita coisa para provar. Sam  apostou em mim e arriscou, mas ele não enxerga as coisas desse modo. Ele sempre dizia: “Ei, Z, não estou preocupado com você”. Eu gosto disso.

Como você conseguiu confiar em Sam para dirigir seu relacionamento na tela com Hunter Schafer, que faz o papel de Jules, um dos primeiros personagens transgênero importantes a aparecer em um drama estudantil? Quem conhece Sam ou conversa com ele fica à vontade. Sam é um livro aberto. Fiquei feliz por ele ter criado uma personagem que é ele, mas que é representada por mim, porque poderia ter escrito o personagem como um homem branco —e aí eu não teria a oportunidade de fazer uma personagem assim. Sam dirige a maioria dos episódios, mas quando não é ele, temos diretoras mulheres, o que é ótimo. Além disso, Sam nos deixou inserir nossos sentimentos e nossas experiências. Sam e Hunter tiveram papos longos e profundos sobre a vida. E Hunter é um anjo de ser humano. Ela é maravilhosa. É difícil deixar de se apaixonar por ela na tela.

Sua carreira no cinema começou de modo impressionante com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. Apesar de seu papel ser pequeno, você soube desde o início que sua personagem era MJ? Sim, conversei com o diretor antes de fazer um teste para o papel, e ele disse que a personagem iria crescendo ao longo do tempo. Não sabia que ela seria introvertida e sarcástica. É uma pessoa que se protege muito e que não deixa muita gente chegar perto. No primeiro filme, só vimos sua fachada externa. No filme que vai sair agora exploramos seus lados mais suaves. Agora precisa ser mais vulnerável, porque ela gosta de Peter.

Você resistiu ao plano original da Disney Channel para “Agente K.C.”. Queria ser produtora, quis que o título fosse mudado (seria originalmente “Super Awsome Katy”), queria que incluísse uma família não branca. Você achava que a Disney precisava desenvolver personagens femininas mais diversas? Sim, 1.000%.Ou a Disney fazia isso, ou eu não faria a série. É uma questão de entender o seu valor. Se você está num lugar onde pode fazer alguma coisa mudar positivamente, então vá fundo. Pude ajudar a mostrar outros caminhos possíveis à garotada da Disney. Então quem sabe isso vai facilitar um pouco essa transição de criança a adulta da qual todo o mundo tanto fala.

Você já notou uma mudança no tipo de papéis que lhe estão sendo oferecidos? Ainda me oferecem as coisas água com açúcar. Tudo bem. Sinto que posso fazer “Euphoria” e ainda ter outro mundo fora disso no qual posso fazer filmes para a família e outras coisas divertidas. Estou tentando agora quebrar o hábito de falar palavrões, porque uso o termo tanto no papel de Rue. Estou prestes a fazer uma turnê de divulgação de “Homem Aranha”. É um filme maravilhoso para a família. Não posso sair por aí soltando palavrões.

Tradução de Clara Allain 

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