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'Fio da Meada', de Silvio Tendler, reforça pontos didáticos, mas ignora forma

Documentário ecológico é um dos destaques da Mostra Ecofalante de Cinema

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Fio da Meada

Há uma palavra que define com precisão o cinema de Silvio Tendler —didatismo. Há sempre, em seus filmes, uma preocupação em explicar como as coisas acontecem e quem está por trás delas.

Já era assim na época de “Os Anos JK” (1980) e “Jango” (1984), com relação à nossa história. E o didatismo se intensificou depois, sobretudo nos dois longas da série “O Veneno Está na Mesa”, de 2011 e 2014, e no seu trabalho anterior, “Dedo na Ferida” (2017).

Seus filmes “históricos de cunho social”, como diz no site de sua produtora, encontram, nestes dias polarizados e meio doentes, um lugar de grande importância para a discussão política mais aberta.

Por isso “Fio da Meada”, um dos destaques da Mostra Ecofalante de Cinema, é um filme carregado desse esforço didático, como se ele percebesse, corretamente, que é necessário um trabalho de explicação para que as pessoas entendam o risco que correm quando não atentam para as questões ecológicas e sociais.

A alternância entre os entrevistados dá voz a intelectuais (do Brasil e do exterior), trabalhadores rurais, ativistas sociais, índios e demais pessoas dedicadas a lutar para que excluídos tenham melhores condições de vida, trabalho e moradia. O professor português Boaventura de Sousa Santos, por exemplo, tem falas essenciais ao longo do filme.

Mas, além da beleza das imagens da natureza e da informação dos entrevistados, há um limite nesse tipo de cinema como arma de luta social.

Se a mensagem é cada vez mais necessária e pertinente, conforme o país (e o mundo) caminha para a barbárie, paira por vezes a impressão de que para o diretor basta só isso, quando, em arte, a mensagem chega com maior potência quando está bem pensada.

Em primeiro lugar, essa forma deve ser adequada. Podemos dizer que nesse quesito “Fio da Meada” se sai bem. Porque para falar de questões ecológicas e sociais e daqueles que oprimem por dinheiro, num documentário, pode-se adotar algum didatismo.

Em segundo lugar, deve-se evitar que a forma seja recheada de lugares comuns. Desse problema o filme se livra, mas parcialmente. Há uma certa moldura institucional que limita sua força cinematográfica. As vinhetas, por exemplo, flertam demais com uma certa adulação do espectador.

Existem outros pontos, mas o principal é que há uma consciência de onde se quer chegar, e isso basta para que o filme seja digno de ser visto.

Silvio Tendler tenta dar conta de mais coisas em relação a seus últimos filmes. Por isso sua câmera-arma (“de luta”, “de pensamento”) e a estrutura da montagem nos levam cada vez mais a pensar em que mundo cruel e injusto vivemos. E pensar, em nossos dias, já é uma ação revolucionária.


Destaques da Mostra Ecofalante

‘Uma Canta, a Outra Não’
O filme de Agnès Varda, morta em março, contra a história de duas amigas com o movimento feminista de Paris como pano de fundo. Quarta (12), às 17h, no CCSP

‘Um Filósofo na Arena’
No filme de Aarón Fernández e Jesús Muñoz, o filósofo francês Francis Wolff vai a touradas na Espanha, na França e no México. Segunda (10), às 17h, no CCBB

‘Strollica’
Animação sobre o que acontece num parquinho com uma turbina eólica. Qua. (5), qui. (6), sex. (7) e ter. (11), na rede de CEUs participantes

‘Zabriskie Point’
Michelangelo Antonioni filma no deserto californiano a história de um casal hippie. Sexta (7), às 18h, no Reserva Cultural

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