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HIV e violências sexuais são temas de animações no festival francês de Annecy

Brasileiro 'Sangro' busca tirar estigma da Aids e foi o único título do país na mostra

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Humberto Moureira
Annecy

O Festival de Animação de Annecy segue sendo a meca da animação e parada obrigatória para produções que almejam olhares internacionais.

DreamWorks, Warner Bros. e a gigante do streaming Netflix desembarcaram na cidade francesa não só para exibir produções, mas também à procura de projetos para investir e títulos para adquirir.

Embora o Brasil seja visitante assíduo do evento, neste ano somente um curta brasileiro foi selecionado para a competição. “Sangro”, dirigido por Thiago Minamisawa, Bruno Castro e Guto BR, busca tirar o estigma de questões que rondam o imaginário social em relação à Aids.

Ao longo de sete minutos, o filme usa técnicas de desenho sobre papel, fotografia e objetos animados para conduzir a história de um recém-diagnosticado portador de HIV. 

Seus medos e suas preocupações de como lidar com o vírus costuram o enredo inspirado na história de Caio Deroci, namorado de Minamisawa e narrador do curta.

“O Caio foi diagnosticado no começo do nosso namoro. Em uma de nossas conversas, ele falou que o preconceito que as pessoas teriam é que o perturbava. É como ter que sair do armário pela segunda vez”, explicou Minamisawa.

“Sinto-me honrado em ter o curta competindo em Annecy”, disse o diretor que faz seu début, “mas no Brasil, infelizmente, o cinema de animação é visto como uma arte menor". "A animação ainda é vista como destinada ao público infantil”, completou.

Por duas vezes o Brasil ganhou o Cristal, prêmio máximo em Annecy. Consecutivamente, em 2013 e 2014, por “Rio 2096: Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, e “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu, premiado em mais de 40 festivais, além de ser indicado ao Oscar de melhor longa ficcional de animação. Além disso, Rosana Urbes levou para casa o prêmio de melhor primeiro filme por “Guida”, em 2015. Todos os títulos são para adultos.

Entre as 214 produções em competição, “Zero Impunity” (impunidade zero), documentário coproduzido pela França e por Luxemburgo, traz à tona violências sexuais cometidas em regiões de conflitos.

Arma radioativa, crime invisível e licença para estuprar são alguns dos assuntos que estruturam o filme de Nicolas Blies e Stéphane Hueber-Blies. A mistura de animação e live-action navega nos mecanismos, na complexidade e diversidade das violências sexuais em guerras.

Doze jornalistas francesas do coletivo YouPress se encontraram com vítimas no campo de refugiados Zaatari, na Jordânia, na Ucrânia e na República Centro-Africana. “Todas as entrevistas investigativas e testemunhos estão em animação por questões de segurança”, afirmou Blies.

As torturas em Guantánamo associadas à violência sexual e à prostituição como meio de sobrevivência no Congo também são mostradas em “Zero Impunity”. “É um grito necessário para aumentar a conscientização do público, mas acima de tudo também uma ode à vida, ao amor e à humanidade”, disse a produtora Marion Guth.

No sábado (15), no Théâtre Bonlieu, a cerimônia de encerramento premiou “J’ai Perdu Mon Corps” (eu perdi meu corpo), de Jérémi Clapin, com o Cristal de Annecy. Ele também levou o prêmio do público. A animação de Clapin foi vencedora na Semana da Crítica no Festival de Cannes.

Na história, uma mão escapa de uma sala de dissecação em busca de seu corpo. Ainda em Cannes a Netflix comprou os direitos da animação.

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