Em primeiro lugar, a gente se pergunta o que Isabelle Huppert está fazendo num típico filme de suspense nova-iorquino. Será que a presença da maior atriz francesa garante que o filme seja excelente? Ou ao menos bom?
Então, percebe-se que o diretor é o irlandês Neil Jordan, que desde 1992 faz filmes elegantes, como o visionário “Traídos pelo Desejo”, premiado com o Oscar de melhor roteiro original, escrito por ele mesmo. Estamos diante de um filme infalível, parece. Infelizmente, “Obsessão” não decola. E a culpa disso é de todos eles.
O nome em português (em inglês é “Greta”, o personagem interpretado por Huppert) já nos remete ao longa “Louca Obsessão”, de 1990, na qual Kathy Bates faz a fã doida de pedra de um escritor (o livro original é de Stephen King), interpretado no longa por James Caan.
Naquele filme excelente, tudo se passava dentro da casa da maluca, que de certa forma sequestra o escritor para poder “cuidar” dele. Pois “Obsessão” (“Greta”) bebe muito, mas muito, daí.
O roteiro é coescrito por Jordan, mas, diferentemente de “Traídos pelo Desejo”, não traz grandes novidades. No meio do filme, temos a chegada do ator norte-irlandês Stephen Rea (o protagonista de “Traídos pelo Desejo”).
Mas sua entrada em “Obsessão”, como um detetive particular, é tão abrupta que de cara nos lembramos de outro detetive particular, que está em outro filme de stalker, curiosamente também realizado na época dos dois já citados: “Cabo do Medo” (1991), de Martin Scorsese.
E batata: o detetive de agora tem o mesmo destino do que estava naquela produção.
E quanto a Isabelle Huppert? Poderia salvar o filme, mas não é o que acontece.
Sua Greta não consegue absolutamente aterrorizar. Alternando entre comportamentos de afeto e de agressividade, fica muito longe do pavor que Kathy Bates, por exemplo, conseguiu imprimir em “Louca Obsessão”.
Conforme avança a escalada de loucura que acomete a mente de Greta, a personagem parece que vai ficando mais patética —e não mais maligna, como seria de se esperar. Seus passinhos de dança quando toca música erudita são ridículos.
Nem a língua do leste (húngaro, no caso), utilizada sem tradução, como se Greta fosse uma cigana diabólica, é novidade. Em “Os Suspeitos” (1995), o vilão turco Keyser Söze conseguia assustar com mais efetividade.
Resta a Chloë Grace Moretz exercer seu charme meio boboca, meio de caipira que chega à cidade. Atriz mirim de certo, ela ainda não encontrou um bom papel de adulta.
Moral da crítica: se você não assistiu a nenhum desses filmes dos anos 1990, é capaz até que goste de “Obsessão”. Boa sorte.
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