Descrição de chapéu

Por que Walcyr Carrasco se tornou o Midas das novelas da Globo

Combo de temas polêmicos e clichês de 'A Dona do Pedaço' inclui a empregada que vai engravidar do patrão

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Amadeu ( Marcos Palmeira ) conhece Josiane ( Agatha Moreira )
Os atores Marcos Palmeira e Agatha Moreira em cena da novela 'A Dona do Pedaço' - Divulgação
Mauricio Stycer

Escrevendo novelas há três décadas, quase sempre com sucesso de audiência, Walcyr Carrasco tem mostrado uma capacidade de reinvenção bem maior que a média de seus colegas de ofício.

Num período de fuga do público da TV aberta, como registrado nesta década, o autor segue dando reiterados sinais de que sabe como manter o espectador preso ao sofá.

Só há cinco anos Carrasco ganhou o direito de escrever para o horário mais nobre da Globo. No primeiro capítulo de “Amor à Vida”, o vilão Felix (Mateus Solano) jogou a sobrinha recém-nascida numa caçamba e, oito meses depois, terminou a novela como um personagem cômico, gay assumido, cuidando do pai entrevado que o humilhou durante toda a trama.

Ao longo de 221 capítulos, o autor criou situações sem qualquer aprofundamento em torno de 30 temas polêmicos ou barulhentos, como obesidade, virgindade, autismo, alcoolismo, lúpus, Aids, incesto, transtorno obsessivo-compulsivo, assédio moral etc.

Em “Verdades Secretas” (2015), uma novela mais curta para as 23h, Carrasco refinou a fórmula. Menos temas, mas todos bombásticos, em torno de prostituição no mundo da moda (o tal “book rosa”), consumo de drogas (crack) e assédio sexual.

Marca de todas as suas novelas adultas, a despreocupação em construir contextos para as situações e a pobreza dos diálogos são, curiosamente, trunfos. Como escrevi outro dia sobre “A Dona do Pedaço”, o importante é sentir; pensar atrapalha.

Não por acaso, “O Outro Lado do Paraíso” (2017), a sua pior novela desta fase, é o seu maior sucesso até agora. Inspirado em “O Conde de Montecristo”, Carrasco criou uma trama policial com toques místicos, ambientada em Palmas e na zona rural de Tocantins, absolutamente sem pé nem cabeça.

“Os críticos e analistas de TV não entenderam, pois procuraram realismo em uma novela que nunca quis que fosse realista”, disse ele, ao final. 

Com 16 capítulos exibidos, “A Dona do Pedaço” dá sinais de seguir o “Padrão Carrasco”. Avança a passos velozes, o que é bom, mas tropeça ao tentar chocar o espectador a cada cena.

A heroína viveu uma tragédia familiar, se refez vendendo bolo na rua e hoje é dona de 22 confeitarias. Caricatura de mulher cafona, envergonha a filha arrivista, que sonha ser influenciadora digital.

Um primeiro “combo” de temas polêmicos e clichês também inclui uma transexual, a empregada que vai engravidar do patrão, o playboy decadente e golpista, a moça criada em convento que descobriu ser irmã de uma mulher rica e a história do empresário que vai trocar um casamento hétero de 20 anos por uma aventura com um boxeador.

Não tem como dar errado.
 

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