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Prêmios Tony celebram a diversidade em noite sem zebras

Os favoritos 'Hadestown' e 'Ferryman' saíram carregados de prêmios

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Bryan Cranston recebe o prêmio Tony de melhor ator em peça não-musical pela interpretação de Howard Beale em 'Network' - Brendan McDermid/Reuters
Nova York

​ ​“Até que enfim um homem branco, velho e heterossexual ganha alguma coisa!”, gritou Bryan Cranston, incorporando o furioso tom de voz de Howard Beale, o âncora de telejornal que interpreta em “Network”. 

O ator havia subido ao palco para receber o prêmio Tony de melhor ator em peça não-musical justamente pelo protagonista do espetáculo, inspirado no filme “Rede de Intrigas” (1976).

A plateia do Radio City Music Hall, em Nova York, veio abaixo. Cranston, consagrado pelo papel de Walter White na série “Breaking Bad”, estava fazendo piada com o tom politicamente corretíssimo dos Tony Awards, a mais importante premiação do teatro americano, ocorrida na noite deste domingo (9).

 

Mas o próprio Cranston não resistiu à correção política: dedicou o Tony, o segundo de sua carreira, aos jornalistas do mundo inteiro, uma categoria profissional cada vez mais perseguida nos tempos que correm. Mais aplausos.

Não é de hoje que a classe teatral nova-iorquina aproveita a cerimônia dos Tony Awards, transmitida ao vivo pela emissora aberta CBS para os Estados Unidos e pelo canal pago Film & Arts para boa parte do mundo, para enviar mensagens de inclusão e respeito à diversidade. É comum que os vencedores dediquem os troféus a seus parceiros do mesmo sexo.

O fenômeno se ampliou em 2019. Houve beijo gay até durante a apresentação de um dos números do musical “The Prom”, que concorria em sete categorias.

Não ganhou nenhuma. O grande vencedor da noite foi “Hadestown”, uma releitura moderna do mito grego de Orfeu e Eurídice, que estreou na Broadway em abril passado.

Além de melhor musical, o espetáculo venceu em outras sete das 14 categorias em que estava indicado —inclusive melhor direção, para Rachel Chavkin, melhor partitura musical, para Anaïs Mitchell, e melhor cenografia, para Rachel Hauck. Até pouco tempo, eram raras as mulheres concorrendo nessas áreas.

Mas o prêmio que mais chamou atenção foi o de melhor atriz coadjuvante em musical, dado para Ali Stroker, a primeira cadeirante a ganhar um Tony. Dona de uma voz poderosa, Ali também é uma escolha ousada para a personagem que interpreta na nova montagem de “Oklahoma!”, o clássico musical de Rodgers e Hammerstein: Ado Annie, uma garota sexy e desinibida. A atriz dedicou seu troféu “a todos os jovens que têm uma deficiência, que enfrentam uma limitação ou um desafio”.

“Oklahoma!” também ganhou como melhor “revival” de musical, vencendo uma única concorrente: “Kiss Me Kate”, a versão de Cole Porter para “A Megera Domada”, de Shakespeare.

“Hadestown” não conseguiu levar dois prêmios importantes. Melhor ator de musical foi para Santino Fontana, que recria o papel que foi de Dustin Hoffman no cinema para a versão teatral de “Tootsie”. E melhor atriz em musical foi para Stephanie J. Block, uma das três intérpretes de Cher em “The Cher Show”, que revisita a trajetória da cantora e atriz.

Entre as peças convencionais, a grande vencedora foi “The Ferryman”, um drama de origem britânica com três horas de duração, que levou quatro dos nove prêmios a que estava indicada.

Mas não levou nenhum dos prêmios de atuação pelos quais competia. Melhor atriz em peça foi mesmo para a lendária Elaine May, que havia atuado pela última vez em 1966, trabalhando nas décadas seguintes mais como diretora e roteirista. May venceu por “The Waverly Gallery”, em que fazia uma mulher que perde a memória. A peça, contudo, já saiu de cartaz.

Apresentada pelo comediante britânico James Corden, que comanda um talk show na TV americana, a 73ª edição dos Tony Awards não trouxe nenhuma surpresa em seus premiados. Todos os vencedores já haviam sido previstos pela imprensa especializada.

Acabou servindo como um fecho de ouro para a temporada em que a Broadway mais faturou em todos os tempos. E ainda temperou a celebração dos bons resultados financeiros com muitos apelos por mais mulheres, negros e transexuais nas produções teatrais. Não é pouca coisa, não.

O jornalista viajou a Nova York a convite do canal Film & Arts

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