A Revolução Francesa já foi contada e recontada em inúmeros filmes, franceses ou não. Mas poucos são os que, fiéis à história, mostram o povão e, menos ainda são os que falam do papel das mulheres naquele momento.
"Embora o poder estivesse nas mãos dos homens, e as mulheres não tivessem cidadania, nem poder de voto, elas tiveram um papel e consciência política importantes", diz Pierre Schoeller, diretor de "A Revolução em Paris".
O filme faz parte da programação do Festival Varilux, que começa nesta quinta (6) e segue até o dia 19 em 78 cidades brasileiras, exibindo 16 longas ainda inéditos no país.
O filme de Schoeller, que em francês se chama "Um Povo e seu Rei", aborda os momentos entre a Queda da Bastilha, em 1789, e a decapitação de Luís 16, em 1793, com especial atenção às discussões que se davam na Assembleia Nacional também fora das tribunas, com a participação do povo ali presente, muitas vezes aos gritos e cantos.
"A Revolução se fez com Robespierre, os deputados, a Assembleia, a corte, mas ela se fez também, e muito, com todos, porque todos participam. Há um engajamento porque todos se veem afetados pelas conquistas", diz Schoeller, que levou sete anos na feitura desta que é uma superprodução para os padrões do cinema francês —com custo de € 17 milhões.
Fruto de extensa pesquisa e do perfeccionismo do cineasta, o filme reconstrói, além de locais decisivos da Revolução hoje destruídos, roupas e cenários, a vida dos moradores e trabalhadores da capital francesa naqueles anos, inclusive suas canções de trabalho e de protestos, para além da já conhecida "Ah, Ça Ira".
O filme estreou na França dois meses antes da irrupção do movimento dos coletes amarelos. "Existe um povo ativo que não é bem abordado pela história oficial", diz o cineasta. "Com o movimento dos coletes amarelos há um retorno desse povo político."
"É como os jovens nos movimentos pelo clima, eles não querem ideias, eles querem ações", afirma Schoeller.
Outro destaque, e grande produção, na escalação do festival é "Cyrano Mon Amour", de Alexis Michalik. O filme conta a criação da peça "Cyrano de Bergerac" pelo então jovem poeta Edmond Rostand, que inventou um dos maiores sucessos do teatro francês aos 29 anos.
O emblemático personagem pode ser visto ainda na pele de Gérard Depardieu no filme "Cyrano de Bergerac", de 1990, que também terá exibições no Varilux.
"Cyrano é um herói francês", diz Michalik, que, sem dinheiro para produzir o filme para o qual tinha o projeto há 15 anos, realizou antes uma peça com o mesmo roteiro e que, após o sucesso nos teatros, viabilizou o financiamento do longa.
Segundo Michalik, os franceses não gostam de quem se dobra ao sucesso. "Cyrano é magnífico, poeta, engraçado, e ele perde com bravura."
Outros destaques da programação
Inocência Roubada
A dançarina e atriz Andrea Bescond narra os abusos que sofreu na infância
Quem Você Pensa que Sou
Juliette Binoche faz a Cyrano nas redes sociais, se passando por uma jovem
Graças a Deus
Novo longa de François Ozon, sobre abusos na Igreja
Astérix e o Segredo da Poção Mágica
Os gauleses se metem de novo em confusões
Festival Varilux
De quinta (6) a 19/6. Programação completa em variluxcinefrances.com
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