Descrição de chapéu Artes Cênicas

Ator diz ter levado multiplicidade de uma novela mexicana para o Oficina

Destaque no espetáculo 'Roda Viva', Guilherme Calzavara está em cartaz em nova peça em SP

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homem careca com as mãos abertas
Artista Guilherme Calzavara, membro do Teatro Oficina, canta, toca e imita - Gabriel Cabral/Folhapress
São Paulo

Ainda bebê, Guilherme Calzavara, 36, roubou as panelas de casa para batucar e entendeu que entrava oficialmente para a música. Estudou bateria aos nove, ingressou como percussionista na Orquestra Sinfônica de Bragança Paulista aos 14, e, quando achava que o erudito seria seu universo para sempre, se viu parte do elenco fixo do Teatro Oficina, em São Paulo. Largou o fraque, e foi tocar música pelado.

“Meu pai perguntava se eu não ia colocar nem uma tanguinha, e eu dizia que não, porque agora era ator”, brinca Calzavara, que em 2004 entrou para a companhia de Zé Celso. “Eles estavam montando ‘Os Sertões’. Perguntaram qual instrumento eu tocava, falei ‘trompete’. Perguntaram se eu era ator, falei ‘não sei’. Fui colocado na pista, e aí já era.”

Na nova versão de “Roda Viva”, texto de Chico Buarque encenado pela Uzyna Uzona desde o final de 2018, ele assumiu o Anjo da Guarda, personagem que, na montagem original, em 1968, ficou a cargo do ator Antônio Pedro. Para tanto canta e toca o mesmo trompete que lhe abriu as portas do teatro no Bexiga, além de performar alguns solos de bateria.

Na mão de Calzavara, o Anjo ganhou, ainda, contornos cômicos com imitações de personalidades como Ariano Suassuna e Olavo de Carvalho, e de políticos como Jair Bolsonaro, Sergio Moro, Lula e Janaína Paschoal. “Criei o leque do centrão”, diverte-se.

homem olhando para câmera
Artista Guilherme Calzavara, membro do Teatro Oficina, canta, toca e imita - Gabriel Cabral/Folhapress

“O Zé sempre me deu muita liberdade para tudo, ele nunca me trava. Posso jogar tudo que eu quiser, então vou cuspindo ideias. E, como gosto de imitar coisas, gosto dos timbres, das vozes, acabei querendo dar a leitura de uma multiplicidade política de uma novela mexicana”, analisa.

“Independentemente da posição política, estou ali como interlocutor. A gente está chorando e rindo ao mesmo tempo, né? Então não considero que imitar alguém seja só uma piada escrachada, mas, sim, abrir uma fenda e trazer um paralelo.”

Zé Celso diz que Calzavara é o palhaço clássico do teatro, tragicômico, que chora com alegria e ri da tristeza. Por se lerem assim mútua e assertivamente, o ator chama o diretor de “meu mestre amigo”, e atribui a ele e a Marcelo Drummond —há 30 anos ator do Oficina— a possibilidade de se desenvolver como um multiartista em sua carreira.

Os três, aliás, moraram juntos em 2012, dividindo o apartamento de Zé e Marcelo. Foram oito meses “maravilhosos”, conta. “Fui embora porque não quis cansar meus mestres. A convivência era cheia de música, arte, leitura. Em casa o Zé é muito mais tranquilo. As pessoas tinham a ideia de que fazíamos orgias, mas as relações não se dão dessa forma.”

Antes de se mudar de Bragança para a capital, em 2004, para tentar a sorte com sua banda de rock Druques, Calzavara havia tido, um ano antes, um breve encontro com Zé Celso, no Festival de Arte Serrinha, no interior paulista.

“Ele abriu um livro, começou a tirar a roupa e falou que quem quisesse tirar também era bem-vindo. E a molecadinha falando ‘chama a polícia, olha o pinto dele’”, relembra. “Eu, que não sabia quem era aquele cara, o achei genial.”

homem com as mãos para cima
Artista Guilherme Calzavara, membro do Teatro Oficina, canta, toca e imita - Gabriel Cabral/Folhapress

Na Uzyna Uzona, atuou em “Os Sertões”, “Taniko”, “Os Bandidos de Schiller”, “Vento Forte para um Papagaio Subir”, “Cacilda 2”, “Dionisíacas”, “Bacantes”, “Acordes” e “O Banquete” —na maioria ainda assinou a direção musical.

Além do Oficina, ele integra grupos teatrais como a companhia Mundana, pela qual fez “Duelo”, em 2013, junto com Camila Pitanga, e a Companhia Livre, de Cibele Forjaz, na qual ensaia “Os Horácios e Os Curiácios”, de Bertolt Brecht, a estrear em setembro.

No mesmo mês se encerram as filmagens da série “Hit Parade”, do Canal Brasil. Seu protagonista, Enzo, é uma celebridade, “um latin lover todo baseado em Sidney Magal”.

Atualmente, Gui, como gosta de ser chamado, está em cartaz com “Uísque e Vergonha”, de Nelson Baskerville, e contracena com Alessandra Negrini. Precisou, com isso, abrir mão do Anjo no Oficina.

No seu lugar, deixou Marcelo Darlouzi, que, para encarar o desafio, pediu ao amigo como herança o cachimbo e os óculos usados nas falas de Olavo de Carvalho, inseridas como caco no roteiro. Gui negou —ambos já estavam incorporados ao personagem psicólogo de “Uísque e Vergonha”. “Vai que é o que dá sorte”, ironiza.

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