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Direita despreza fatos e abraça desinformação, diz autor sobre caso Greenwald

Estudioso antifascista Mark Bray defende o americano e lança livro contra conservadores na Flip

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Paraty (RJ)

Na semana passada, manifestantes de direita se reuniram numa praça perto da Casa Branca, em Washington, para protestar contra a mídia tradicional e pedir liberdade de expressão. A poucos metros, grupos de esquerda montaram um contraprotesto e começaram a tocar música no último volume, atrapalhando a manifestação vizinha.

Foi a mesma tática usada na noite de sexta-feira (12) durante a participação do jornalista Glenn Greenwald em debate na Flipei. Em Paraty, porém, foi a direita que usou música alta e rojões para abafar a esquerda.

Protesto contra Glenn Greenwald em Paraty, durante a Flip
Protesto contra Glenn Greenwald em Paraty, durante a Flip na noite de sexta (13) - Folhapress

Afinal, tentar atrapalhar um protesto com música alta configura liberdade de expressão ou viola a liberdade de expressão? Depende de quem faz isso, e do motivo, diz Mark Bray, autor do livro "Antifa - O Manual Antifascista", que está sendo lançado durante a Flip.

“Sem entrar no mérito dos rojões, que poderiam ter ferido alguém, acho que a tática em si é legítima, mas é preciso considerar a política”, disse Bray. “O protesto de ontem tinha como objetivo defender um líder autoritário e silenciar um jornalista, então não era aceitável”, disse.

Ele não acha que isso seja um caso de dois pesos e duas medidas. “A promoção dessas políticas e desse discurso [de direita] causa dano real às pessoas, e isso se sobrepõe à liberdade de expressão”, acha. Isso não se aplica ao protesto da esquerda antirracista em Washington, diz.

O livro de Bray traça um panorama do movimento antifascista, ou antifa, como é conhecido, desde os primórdios, nos anos 1920 e 1930, como reação à ascensão de Hitler e Mussolini, até os dias de hoje, em que combate políticas do governo Trump e outros.

Bray afirma que, hoje em dia, não há nenhum governo no mundo que possa ser caracterizado como 100% fascista, mas há líderes que adotam algumas políticas fascistas.

“Trump não tem uma ideologia fascista, ele é sedento por poder e usa ‘dog whistle’ (expressão para o uso de palavras e frases que podem ser compreendidas somente por um grupo específico) de forma bem sucedida para jogar com as ansiedades de certos grupos”, diz. “Jair Bolsonaro me parece mais um seguidor da linhagem de governos autoritários militares da América Latina do que propriamente um fascista.”

E a Venezuela? “A Venezuela, sob [Nicolás] Maduro, tem um governo autoritário, mas nem todo governo autoritário é fascista. É óbvio que existem governos de esquerda que são autoritários.”   

Ele aponta para o perigo de se banalizar o termo fascismo. “A esquerda tem usado o termo para caluniar oponentes nos Estados Unidos e descrever qualquer um que adote políticas iliberais. Isso pode levar o termo a perder seu valor.”

Mesmo assim, alerta Bray, é importante ter em mente como o fascismo evoluiu e os novos fascistas lançam mão de táticas mais sutis. Em vez de defender a supremacia branca, por exemplo, falam sobre a ameaça que paira sobre a maioria branca –em inglês, chama-se de "dog whistle", uso de uma mensagem aparentemente inócua, mas que é entendida pelo público alvo —o apito de cachorro só pode ser ouvido por cães, e não por humanos.

Ele defende que o uso da violência por movimentos antifascistas ou black blocs pode ser justificável. “Parece paradoxal, mas se trata de uma autodefesa preventiva. Os antifascistas não dão o benefício da dúvida aos fascistas, não esperam suas ações virarem violência contra minorias”, diz. “Mas a grande maioria dos antifascistas não usa violência, embora a imprensa sempre faça estardalhaço quando há episódios.”

Segundo Bray, hoje em dia a extrema direita usa as redes sociais de forma muito mais eficiente do que a esquerda. “Eles se sentem mais confortáveis com desinformação gritante e nutrem um desdém pelos fatos “, diz.

“Além disso, é mais fácil propagar a mensagem de direita, que é uma defesa dos valores tradicionais, que joga com preconceitos entranhados das pessoas. Já a esquerda tem uma mensagem mais difícil, de pregar grandes mudanças para o meio ambiente, o trabalho etc.”

Antifa - O manual antifascista

  • Preço R$ 50
  • Autoria Mark Bray
  • Editora Autonomia Literária
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