Casa em que Michael Jackson cresceu resiste em meio a ruínas de cidade fantasma

Músico passou a infância em Gary, Indiana, que foi de promessa a capital do assassinato nos anos 1990

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Gary (EUA)

A pequena casa branca de gramado impecável, na esquina das ruas Jackson e Jackson Family, atrai gente do mundo inteiro na cidade americana de Gary, no estado de Indiana. Há esculturas de crianças brincando, flores no portão e mensagens escritas por fãs nos tijolos da calçada.

Afinal, foi aqui que tudo começou para Michael Jackson e seus irmãos Jackie, Tito, Jermaine e Marlon, que ensaiavam por horas a fio na sala apertada, antes de suas apresentações em escolas, lojas e bares da região. Mas enquanto a casa segue relativamente bem cuidada, todo o resto de Gary segue em ruínas, quase como uma cidade fantasma.

Gary, a 47 km de Chicago, foi de cidade do futuro nos anos 1920, com o avanço da indústria do aço e suas diversas siderúrgicas, para virar “capital do assassinato” na década de 1990. Desde os anos 1960, perdeu quase 60% de sua população com o fechamento de fábricas e declínio do setor. Hoje, são cerca de 75 mil habitantes e muitas ruas vazias.

Terrenos baldios estão intercalados com prédios que parecem prestes a desabar, como o hospital onde Jackson e seus irmãos nasceram, o St. Mary’s Mercy. Fechado desde 1995, agora é palco de seriados sobre caça-fantasmas e parece mais cenário do videoclipe de “Thriller”.

O bar Mister Lucky’s Lounge também está abandonado, protegido por uma cerca e com as janelas tampadas por placas de madeira. Um anúncio colado no exterior avisa: “casa da primeira performance dos Jackson 5”.

“Eles começaram a cantar aqui em 1964. Cinco sets por noite, seis shows por semana”, lembrou o patriarca Joe Jackson (1928-2018) a um jornal local em 2011, quando visitou a cidade com a matriarca Katherine.

Dez anos atrás, novos proprietários do Mister Lucky’s Lounge prometeram reerguer o espaço e vender os tijolos vermelhos do prédio. Os planos nunca saíram do papel.

A escola Garrett Elementary, onde os Jacksons aprenderam o ABC, fica a duas quadras da residência. Hoje um prédio decadente e vazio, foi onde Michael fez sua primeira performance, aos 5 anos, com a música “Climb Every Mountain”.

Nem a casinha no número 2.300 da rua Jackson passou ilesa do declínio da cidade. Um tributo em granito instalado no jardim, com uma foto de Michael Jackson dançando na ponta dos pés, foi roubado alguns anos atrás.

Comprada pelo casal Jackson em 1950, o local segue propriedade da família, que se mudou para uma mansão na Califórnia em 1969. Naquele ano, o grupo Jackson 5 havia assinado contrato com a Motown, de Detroit, a 400 km de Gary. Michael tinha dez anos.

Com apenas dois quartos e um banheiro na residência, Michael dormia num quarto com seus quatro irmãos apinhados em beliches, enquanto as três irmãs dividiam a sala. Não é possível visitar por dentro, nem circular no jardim, que tem esculturas de cervos e de três crianças.

Apesar de arrumada por fora, o local poderia facilmente ganhar o título de casa dos horrores. Afinal, também foi aqui que Michael e seus irmãos passaram por maus bocados nas mãos de Joe, com abusos físicos e psicológicos.

Além das surras de cinta, Joe tinha uma coleção de armas em casa e chegou a apontá-las para os filhos quando os ensaios não iam bem. La Toya Jackson escreveu em sua biografia que ela e a irmã Rebbie foram abusadas sexualmente pelo pai.

Em 2013, La Toya voltou à residência com a mãe para uma vigília no aniversário do irmão, morto em 2009. “Mas que pequena, parece uma casa de brinquedo!”, ela diz ao entrar na sala, em seu programa de reality show. “Como a gente comia todos juntos nessa cozinha minúscula?”, ela pergunta à mãe. “Porque eu lembro, sempre jantávamos todos juntos.”

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