“Eu já te falei que toda vez que você fala de ecologia, a audiência cai três pontos!”, diz o diretor do talk show "Entre Pontos" à apresentadora Natalie (Débora Falabella).
Ele tem razão. Apesar de todo mundo se achar defensor do meio ambiente, filmes e programas de TV com mensagens explicitamente ecológicas costumam ir mal das pernas.
Como passar essas mensagens sem cair no didatismo e ainda entreter o público? Eis o desafio de “Aruanas”, cuja primeira temporada completa já está disponível na plataforma Globoplay.
Numa iniciativa inédita e ambiciosa, o programa também poderá ser visto em 150 países através do site aruanas.tv, por US$ 12,90. Até outubro, metade do valor arrecadado será doado a uma entidade de proteção à Amazônia.
A Amazônia também é um dos cenários desta primeira leva de episódios. Na fictícia cidade de Cari, a mineradora KM está poluindo os rios locais. Uma denúncia chega à também fictícia ONG Aruana, baseada em São Paulo.
A ativista Luiza (Leandra Leal) é despachada para Cari. Mas o jornalista que serviria de elo com o delator aparece morto no porta-malas de seu carro, e Luiza chega a ser presa como suspeita do crime.
Essa prisão faz com que a apresentadora de TV Natalie e a advogada Verônica (Taís Araújo), amigas de infância de Luiza e, com ela, fundadoras da Aruana, também se envolvam no caso. Juntas elas enfrentarão o empresário Miguel Kiriakos (Luís Carlos Vasconcelos), dono da KM.
O enredo central é temperado pelos dramas pessoais das protagonistas. Verônica tem um caso com Amir (Rômulo Braga), marido de Natalie, e se sente culpada —mas não ao ponto de se livrar do amante.
Luiza briga com o ex-marido pela guarda do filho, a quem, no entanto, ela não consegue dar a devida atenção. E Clara (Thainá Duarte), estagiária da Aruana, foge de um ex-namorado violento.
Esses dilemas ajudam “Aruanas” a não resvalar para a ecochatice. Mas, verdade seja dita: a tensão constante e as sequências de ação da trama principal passam longe da pregação. É um clássico embate entre o bem e o mal, mas ninguém é santo. Todos os personagens têm lá seus matizes.
Um dos mais interessantes é a lobista Olga, a primeira vilã da carreira de Camila Pitanga, que abusa do charme para alcançar objetivos escusos em Brasília. Também é ótimo vê-la contracenar com Taís Araújo: pela primeira vez, as duas grandes estrelas negras da Globo estão no mesmo elenco.
O projeto de “Aruanas” nasceu em 2010 na produtora Maria Farinha, ligada à ONG Alana e especializada em filmes sobre causas sociais. Mas foi só a partir de 2017, quando a Globo encampou a ideia, que a série começou a sair do papel.
Cofundadora da Maria Farinha, a roteirista e diretora Estela Renner —cujo trabalho de maior evidência até o momento era o documentário “O Começo da Vida”— também é uma das criadoras de “Aruanas” e assina a direção-geral do programa.
Com uma temática que pouco tem de escapista e uma produção complicada, com muitas externas em locações inóspitas, “Aruanas” é uma aposta arriscada da Globoplay. Mas a plataforma está tão confiante que já encomendou uma segunda temporada, antes mesmo da estreia.
Resta saber se, no momento em que o próprio Ministério do Meio Ambiente parece empenhado em destruir o que deveria proteger, o público se interessará por uma série sobre ativistas.
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