Descrição de chapéu Flip

Escritor faz paralelo entre ação de mineradoras e obra de Drummond

Durante fala de José Miguel Wisnik, barragem na Bahia transborda e deixa desabrigados

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Paraty (RJ)

A crítica à ação das mineradoras e aos desastres ambientais causados por elas deu o tom à fala de José Miguel Wisnik em mesa desta quinta (11) na Flip. "As promessas de modernização escondem o fato que a mineração promove atentado à vida e às riquezas materiais e imateriais do país", disse o escritor e crítico literário.

Ele falou sobre a relação da obra de Carlos Drummond de Andrade e a história da mineração no século 20 em Minas Gerais, tema de seu último livro, “Maquinação do Mundo”. A obra de Wisnik foi lançada menos de três anos depois do rompimento da barragem da Vale do Rio Doce em Mariana e cerca de seis meses antes do desastre ambiental em Brumadinho.

O escritor José Miguel Wisnik, durante a mesa 4 - Sincorá, como parte da Flip 2019, em Paraty
O escritor José Miguel Wisnik, durante a mesa 4 - Sincorá, como parte da Flip 2019, em Paraty - Folhapress

Enquanto Wisnik falava, surgiam as notícias sobre o transbordamento da barragem do Quati, em Pedro Alexandre (a 435 km de Salvador), por volta das 11h desta quinta. As informações aparentemente ainda não haviam chegado ao auditório da Matriz, em Paraty, onde foi realizada a mesa.

O escritor só soube do acidente na barragem em Pedro Alexandre após sair de sua apresentação. Para ele, o evento aproxima de vez Drummond e Euclides da Cunha. "Mariana e Brumadinho juntaram o sertão de Guimarães Rosa a Drummond. O acidente na Bahia junta definitivamente Drummond e Euclides."

Na topografia da Flip, a mesa de Wisnik ganhou o nome de Sincorá, serra na Chapada Diamantina que foi núcleo da mineração de pedras preciosas no século 19.

Coincidência trágica, poética e histórica. “Drummond também deve ser lido todos os dias”, disse a mediadora da mesa Rita Palmeira, parafraseando o conselho de Walnice Nogueira Galvão sobre a obra de Euclides da Cunha, na abertura da Flip. 

Wisnik contou como chegou a esta leitura da obra do poeta após uma visita a Itabira, terra natal de Drummond. "Itabira era só a cidadezinha qualquer de Mato Dentro, mas também o local na mira dos interesses do mercado internacional de ferro desde 1910", disse.

A relação entre os poemas e a ação das mineradoras ainda não tinha sido objeto de análises, apesar de inúmeras críticas feitas por Drummond em crônicas no Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Estes textos, disse Wisnik, nunca foram reunidos em livro. Após a tragédia de Mariana, uma das críticas em forma de poema de Drummond correu a internet: "O Rio? É doce. A Vale? Amarga", como lembrou Wisnik.

No final da mesa, duas observações adicionais. Um relacionado ao livro “Maquinação do Mundo”, em que o autor discorre sobre o vídeo de um garoto negro e de periferia que, durante uma manifestação em Salvador, recita o poema “José”. Em seguida, o próprio Wisnik declamou um poema de Arnaldo Antunes e Cézar Mendes para João Gilberto: “São tantos e tão poucos têm noção/ De como se inaugura uma nação.”

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