Repleta de sátiras políticas e de críticas ao capitalismo, a arte urbana de Banksy —e seu hábito de espalhar suas obras pelo mundo sem qualquer tipo de licença prévia— é objeto de uma grande exposição que fica em cartaz até outubro em Lisboa.
“Banksy: Genius or Vandal” convida o espectador a refletir sobre a tênue fronteira que separa uma intervenção artística genial de um ato de vandalismo.
Não autorizada —e até criticada— pelo artista, a mostra atraiu mais de 600 mil pessoas pelas cidades por onde já passou, entre elas Moscou, São Petersburgo e Madri.
Embora seja um dos nomes mais conhecidos do vasto universo da arte de rua, a identidade de Banksy nunca foi confirmada. A aura de mistério em torno de sua personalidade é também um dos componentes de atração de suas obras.
“O trabalho de Banksy é um desafio para o sistema, um protesto, uma marca extremamente bem construída, um mistério, uma desobediência à lei. Queremos que cada visitante desta exposição seja capaz de decidir quem realmente é Banksy, é um gênio ou um hooligan? Um artista ou um empreendedor?”, provoca Alexander Nachkebiya, que organiza a mostra.
São cerca de 70 peças originais, incluindo serigrafias, grafites, esboços, fotografias, vídeos e instalações da obra do artista britânico.
A seleção inclui o início de sua carreira, em Bristol, na Inglaterra, passa por intervenções dele na Cisjordânia e pela famosa imagem da menina com balão, que voltou aos holofotes depois de ser destruída de propósito pelo artista em pleno leilão da peça.
A exposição é dividida em alas temáticas, que explicam o contexto por trás de algumas das obras apresentadas.
Há especial destaque para as peças que fazem críticas à sociedade de consumo, como “História da Cliente Voadora”, que mostra uma menina despencando de um prédio enquanto empurra um carrinho de compras. Outra, também provocativa, é “Sale Ends Today”, com figuras bíblicas idolatrando um cartaz de promoção.
A sátira política, um dos assuntos favoritos de Banksy, ocupa uma boa parte da mostra. A família real britânica, o Parlamento de seu país e as autoridades policiais são algumas das “vítimas” mais recorrentes nas mãos do artista.
Em “Monkey Queen”, Banksy retrata a rainha Elisabeth 2ª como uma macaca usando coroa e joias em frente às cores da bandeira britânica. Já em “Turf Wars”, a arte se volta contra o ex-primeiro ministro Winston Churchill, que aparece com um moicano verde feito de grama.
Banksy costuma usar dois animais como forma de expressar sua desobediência ao sistema. Os macacos e as ratazanas, que ganham feições humanas, relembram o espectador das semelhanças entre o comportamento dos bichos e o de seres humanos.
Já os roedores, com sua capacidade de adaptação e sobrevivência, aparecem normalmente associados a símbolos anárquicos, contra o establishment.
As intervenções de Banksy na região ocupada da Faixa de Gaza também são destaque, com uma área inteira dedicada à arte urbana e ao Walled Off Hotel, alojamento que abriu há dois anos com vista privilegiada do muro que separa Israel dos territórios palestinos.
Questionado no Instagram no ano passado sobre a mostra “Genius or Vandal”, Banksy desdenhou. “Não cobro para as pessoas verem a minha arte, a não ser que haja uma roda gigante.”
A resposta é uma alusão ao fato de todas as exposições criadas pelo artista terem entrada gratuita, com exceção de “Dismaland”, de 2015, em que o britânico e outros artistas criaram uma espécie de parque de diversões distópico, cheio de críticas sociais e políticas.
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