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Cinema

Longa do diretor turco Nuri Bilge Ceylan ecoa regime de Erdogan

'A Árvore dos Frutos Selvagens' deixa duas perguntas sem resposta pronta: sobre o que é o filme e qual é a história

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A Árvore dos Frutos Selvagens (Ahlat Agaci)

  • Preço Estreia nesta quinta (4)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Aydin Dogu Demirgol, Murat Cemcir, Bennu Yildirimlar
  • Produção Turquia/França/Alemanha/Bulgária, 2018
  • Direção Nuri Bilge Ceylan

Ao término das mais de três horas de projeção de “A Árvore dos Frutos Selvagens” ficamos com duas perguntas sem resposta pronta: sobre o que é o filme e qual é a história?

A proposta de cinema do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, como já sabem seus admiradores, estira a temporalidade não apenas no sentido da longa minutagem. O tempo, em suas narrativas, é menos uma medida que um sentimento e o cineasta transmite isso por meio de duas situações, a espera e a transformação.

No centro de “A Árvore dos Frutos Selvagens” está Sinan, jovem de vinte e poucos anos que não quer repetir o papel dos mais velhos nem sabe como escapar do lugar predestinado.

Do primeiro ao ultimo plano ele aparece sozinho, aguardando, no início, o transporte em que retorna para casa após concluir a universidade, ao final, realizando um esforço físico intenso.

Entre estas duas imagens, o personagem vagueia e, sobretudo, discute. As cenas de diálogos são tão extensas que podem fatigar quem espera muita ação. Ação, nos filmes de Ceylan, não é algo físico, mas não deixa de acontecer na forma de embates orais, daí a importância que ele dá à palavra.

O conflito principal em “A Árvore dos Frutos Selvagens” é entre ideias e expectativas. Isso se expressa na forma escrita do livro que Sinan tenta publicar e nas discussões que ele tem ao buscar recursos para tirar o texto da gaveta.

A situação o leva a encontros com um político, um escritor e um funcionário público, figuras que o escutam com paciência, mas os diálogos tendem a se converter em batalhas.

O vício do pai em apostas e o sofrimento calado da mãe frente à submersão do marido é outro motivo que Ceylan explora nas cenas domésticas em que expõe valores familiares e personagens paralisados.

O breve reencontro com uma garota que ama e um longo passeio com dois religiosos completam esta jornada que não é só de um herói. O indivíduo que seguimos incessantemente é também o fio que desvenda como política e religião controlam a sociedade turca, hoje presa do regime autoritário de Erdogan.

A imersão quase panteísta na natureza, grande força do cinema do diretor, aparece nas perambulações de Sinan e, em particular, na passagem das estações. Assim, vemos um tempo que avança e contra o qual os personagens nada podem.

O tempo íntimo também não espera e a juventude cheia de vontades de Sinan não sabe se abraça a revolta ou se acata uma ordem que parece ser eterna.

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