Descrição de chapéu Flip

'Me promovi tão bem que não dava mais para me ignorar', diz Jarid Arraes

Escritora convidada da Flip lança primeiro livro de contos e diz que foi mais esperta que o mercado

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Paraty (RJ)

“Meu livro é sobre o sertão, mas não o sertão do chão rachado com crânio de vaca”, diz Jarid Arraes sobre o seu “Redemoinho em Dia Quente”, que está sendo lançado na Flip pela Alfaguara.

O volume é o primeiro de contos da escritora de 28 anos, que já tem outros quatro títulos publicados. Nascida em Juazeiro do Norte, no Ceará, é espécie de celebridade literária na internet, onde estourou com cordéis sobre heroínas negras esquecidas pela história oficial.

Escritora cearense Jarid Arraes, 28, nas ruas de Paraty
Escritora cearense Jarid Arraes, 28, nas ruas de Paraty - Eduardo Anizelli/ Folhapress

No novo livro, ela reúne contos, a maioria em primeira pessoa, sobre mulheres de seu Cariri natal. Os eu-líricos são diversos, de uma mulher religiosa que experimenta drogas pela primeira vez a uma mulher trans, passando por uma jovem mototaxista.

“É muito incrível quando você pega um livro e tem uma personagem que se parece com você, um livro que não se passa em São Paulo, é em outra região, e que não está retratada no clichê”, diz.

Desde adolescente Arraes, filha e neta de cordelistas e xilogravadores, escreve, mas levou tempo para que percebesse que poderia mostrar aos outros o que criava.

“Quando criança, eu não tinha acesso a livros de mulheres, muito menos de negras ou do Norte e Nordeste. Como você nunca vê mulheres como você publicando, dá a sensação de que isso não é para você.”

Mas já publicando seus cordéis na rede e após receber nãos de diversas editoras, Arraes tomou um empréstimo e publicou de forma independente “As Lendas de Dandara”, um romance que mistura história e fantasia sobre a companheira de Zumbi. O livro foi um sucesso.

“Aprendi a usar as redes sociais para me promover, se não fosse isso, as coisas não teriam acontecido. Fui mais esperta que o mercado”, diz. “Eu tive ideias de coisas que eu vejo que até hoje as editoras não fazem para promover seus livros”, gonga.

Ela conta que interage com leitores e responde a todos. “Isso faz muita diferença nos livros que você vende, nos convites que recebe. Eu me promovi tão bem que chegou uma hora que não dava mais para me ignorar”, conta.

E não foi mais ignorada mesmo. Ela participa da programação oficial da Flip neste sábado (13) em mesa com a americana Carmen Maria Machado, autora de “O Corpo Dela e Outras Farras” (ed. Minotauro, 240 págs., R$38,90).

“Tudo o que eu faço é coletivo, estar aqui não é só sobre mim. Venho de vários lugares e trago outras pessoas comigo. Espero que isso faça com que portas sejam abertas para pessoas como eu”, diz.

Além de vender, ela quer se aproximar dos leitores. “Não quero ser a autora que está inacessível; eu quero ser amiga dos meus leitores”, diz. “Eu consigo ter uma troca genuína, as pessoas me dizem o que elas pensam. É diferente de esperar um jornal falar sobre seu livro”, diz ela, sempre sorridente, com pouco sotaque.

Horas após a entrevista, em uma mesa com o escritor Marcelino Freire na programação paralela da Flip, Arraes explicou o porquê. “São Paulo me traumatizou muito pelo jeito que eu falo”, disse ao dar exemplos de preconceitos que sofreu na capital paulista. “Eu percebi que fui engolindo cada vez mais o meu sotaque.”

Não foi só em São Paulo, porém, que Arraes sofreu preconceitos. Segundo ela, embora sempre tivesse se visto como uma pessoa que não era branca, filha de pai negro e mãe branca, demorou a se reconhecer como negra. “Meu avô era super-racista e me chamava de ‘minha neguinha’ com muito carinho”, conta. “A primeira pessoa que me reconheceu como negra foi meu avô racista.”

Ela diz que a coragem para publicar surgiu ao descobrir, a partir de um texto de Conceição Evaristo que lhe caiu nas mãos, outras autoras negras. “Isso abriu um mundo para mim. Agora, se eu nunca li um livro sobre determinada coisa, e eu sinto falta daquilo, então eu vou escrever.”

E Arraes deseja que venham outros com ela. “Escrever não é dom, iluminação, é um ofício, uma habilidade que se desenvolve. Quanto mais familiarizado se é com a escrita, melhor se escreve."

​SÁBADO, 13 DE JULHO

17h - 18h15 | Mesa 17 | Vila Nova da Rainha
Carmen Maria Machado
Jarid Arraes

Redemoinho em Dia Quente

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