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Televisão

Mulheres dominam comédia no Emmy pela 1ª vez em 71 anos

Séries cômicas indicadas fogem dos clichês de burra, gostosa ou megera

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São Paulo

Pela primeira vez em 71 anos de Emmy, a principal premiação da TV americana, séries protagonizadas por mulheres e/ou de forte temática feminista predominam na categoria de comédia, com 5 das 7 produções indicadas para o prêmio a ser entregue em 22 de setembro.

A lista coroa uma tendência que ganhou atenção com a multiplicação de plataformas de exibição: a de comediantes mulheres que fazem graça para e sobre si, fora de nichos pensados para a plateia masculina (gostosa burra/sogra megera/mulher mandona/caipira inocente/rica fútil).

Estão na lista “Fleabag”, “A Maravilhosa sra. Maisel” e “Boneca Russa” (esta última na Netflix, as outras duas na Amazon Video), além de “Veep” (HBO) e “The Good Place” (exibida no canal aberto NBC nos EUA e aqui na Netflix).

As três primeiras têm discurso marcadamente feministas, ainda que longe do panfletário; as duas últimas trazem histórias mais universais, mas também com protagonistas irredimíveis e hilárias. 

As cinco são tão originais quanto libertárias do ponto de vista feminino. Com outras produções na mesma onda —a recém-encerrada “Broad City”, a sensível “Better Things” e a potente “Insecure”—, rompem um ciclo de décadas em que fazer rir era visto como coisa de homem.

Décadas, aliás, bem recentes —em 2007, o jornalista e ensaísta britânico Christopher Hitchens, morto em 2011, defendeu essa ideia em um longo ensaio na revista Vanity Fair intitulado “Por que as mulheres não são engraçadas”.

Desde que Hitchens escreveu seu texto infame, elas foram chegando, e os fãs também. Nos últimos anos, sempre havia uma série cômica a ver o mundo por olhos de mulheres —“Sex and the City”, “Girls”, a própria “Veep”.

Esta, entretanto, é a primeira vez que elas dominam a cena, ao menos na premiação que tem se mostrado a mais antenada com as rápidas mudanças culturais e geracionais.

Claro que sempre houve protagonistas fortes e comediantes reconhecidas, o que seria suficiente para desmontar o argumento de Hitchens e quetais. Muitas delas, porém, foram relegadas a escada de comediantes homens, e quase sempre no papel de esposa. 

Quando Lucille Ball ganhou em 1958 o Emmy de melhor ‘comedienne’ (sim, existia), apenas ela era protagonista. As concorrentes todas tinham papeis secundários.

Com seu “I Love Lucy” (indicado ao Emmy pela primeira vez em 1952), ela foi pioneira, seguida por outras como Mary Tyler Moore, "Murphy Brown" e mesmo por produções mais caretas, mas com protagonistas fortes, como “A Feiticeira” e “Jeannie é um Gênio”.

Houve até um intervalo (de 1989 a 1991) em que séries que tratavam de mulheres —a própria “Murphy Brown”, “Design Women” e “Supergatas”, aquela sobre aposentadas— foram simultaneamente indicadas, mas, exceto pela primeira, é difícil enxergar nelas temáticas marcadamente feministas ou mesmo femininas.

A comédia, na TV e nos palcos, sempre foi um reino notadamente masculino, muitas vezes machista (não é à toa que boa parte dos escândalos de assédio e estupros trazidos à tona pela movimento #MeToo teve aqueles que fazem rir como protagonistas de shows de horrores). 

O espaço refletido no Emmy teve de ser aberto de supetão.

A mais inovadora de todas é “Fleabag”, da britânica Phoebe Waller-Bridge, também indicada a melhor atriz, junto com as coadjuvantes Olivia Colman e Sian Clifford (madrasta e irmã da protagonista). Mas não seria mau se “Veep”, em sua despedida, ganhasse mais uma e completasse a estante de Julia Louis-Dreifuss, a mais genial desde Lucille.

Ah, sim —a boa “Barry” e a canadense “Schitt’s Creek”, que fez sucesso ao desembarcar nos EUA, completam a lista de melhores comédias.

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